Blog de Aureus

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26 de março de 2009

O descanso de ser roubado e, pelo menos, saber


Recebi o mail que aparece a continuação. Não merece mais comentarios do que aconselhamento de que vão vocês próprios ao site e pesquisem o que lhes apeteça. O estado não deixa de surpreender: Continuam a roubar-nos, na boa, mas agora já nem sequer o escondem, podem-se rir de nos na cara, não acontece nada... Isto tudo é público, e tudo continua igual. Boa sorte. Passo ao mail:

Portugal, País de grandes tradições e brandos costumes... pelo menos é o que muitos pensam ser verdade... até abrirem os olhos.

Para quem não é de cá, ou não sabe o que são os "ajustes directos", eu explico. Como gastar o dinheiro público é uma coisa que deve ser feita com muita responsabilidade, a maior parte dos fornecedores das entidades públicas é seleccionada por concurso público, onde vários fornecedores apresentam a sua melhor proposta, sendo depois escolhida a "melhor" em
função de vários critérios (preço mais barato, serviços apresentados, etc.)

No entanto, como se imagina, isto é impraticável de ser feito para tudo o que uma câmara municipal, faculdade, universidade, etc. tenha que comprar.
E portanto, há coisas que são compradas directamente, a quem eles muito bem entenderem... e aparentemente, ao preço que muito bem lhes apetecer!

E finalmente, graças ao portal da transparência, podemos ver finalmente onde e como esse dinheiro é gasto.

Agora, expliquem-me, porque eu devo estar a ver mal, como é que se justifica:

1) gastar mais de 10.000,00 euros num GPS para um instituto público como o ISEP - quando nos dizem que não há dinheiro para baixar as propinas aos alunos.

2) Aquisição de:1 armário persiana; 2 mesas de computador; 3 cadeiras c/rodízios, braços e costas altas - pela módica quantia de 97.560,00 EUROS (!!!)

3) Em Vale de Cambra, vai-se mais longe... e se pensam que o Ferrari do Cristiano Ronaldo é caro, esperem para ver quanto custa um autocarro de 16 lugares para as crianças: 2.922.000,00 €
É isso mesmo: quase 3 milhões de euros???

4) No Alentejo, as reparações de fotocopiadoras também não ficam baratas:
Reparação de 2 Fotocopiadores WorkCentre Pró 412 e Fotocopiador WorkCentre PE 16 do Centro de Saúde de Portel: 45.144,00 €

5) Ao menos em Alcobaça, a felicidade e alegria as crianças fala mais alto:
8.849,60€ para a Concentra em brinquedos para os filhos dos funcionários da câmara!
Crianças... se não receberam uma Nintendo Wii no Natal, reclamem ao Pai Natal, porque alguém vos atrofiou o esquema!

6) Mas voltemos ao Alentejo, onde - por uns meros 375.600,00 Euros se podem adquirir:  "14 módulos de 3 cadeiras em viga e 10 módulos de 2 cadeiras em viga"

Ora... 14x3 + 10x2 =  62 cadeiras... a 375.600,00 euros dá um custo de... 6.058,00 Euros por cadeira!
Mas, pensando bem, num país onde quem precisa de ir a um hospital passa mais tempo sentado à espera do que a ser atendido - talvez justifique investir estes montantes no conforto dos utentes...

7) Em Ílhavo, a informática também está cara, 3 computadores e mais uns acessórios custam 380.666,00 €
Sem dúvida, uns supercomputadores para a Câmara Municipal conseguir descobrir onde andam a estourar o orçamento.

8) Falando em informática, se se interrogam sobre o facto da Microsoft ser tão amiga do nosso País, e de como o Bill Gates é/era o homem mais rico do mundo... é fácil quando se olham para as contas: Renovação do licenciamento do software Microsoft: 14.360.063,00 €
Já diz o ditado popular: Dezena de milhão a dezena de milhão, enche a Microsoft o papo!
(Já agora, isto dava para quantas reformas de pessoas que trabalharam uma vida inteira?)

9) Mas, para acabar em pleno, cagar na capital fica caro meus amigos! A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa gastou 5.806,08 € em 9072 rolos de papel higiénico!
Ora, uma pesquisa rápida pela net revelou-me que no Jumbo facilmente encontro rolos de papel higiénico (de folha dupla, pois claro! - pois não queremos tratar indignamente os rabos dos nossos futuros doutores) por cerca de 0,16 Euros a unidade...
Mas na Faculdade de Letras, aparentemente isso não é suficiente, e o melhor que conseguiram foi um preço de 0,64 Euros a unidade!
É "apenas" quatro vezes mais do que qualquer consumidor consegue comprar - e sem sequer pensarmos no factor de "descontos" para tais quantidades industriais.

Num País minimamente decente, eu deveria poder exigir que me devolvessem o valor pago em excesso, não?
Mandava o link para a Faculdade de Letras de Lisboa, e exigia que me devolvessem os 4.000 e tal euros pagos a mais. (Se comprassem no Jumbo, teriam pago apenas 1.451 euros pelo mesmo número de rolos de papel higiénico.)

Ó MEUS AMIGOS.... como é que é possível justificarem estas situações?
Que, como se pode imaginar, não são as únicas. Se continuasse a pesquisar nunca mais parava - como por exemplo, os mais de 650 mil euros gastos em vinho tinto e branco em Loures. Leitores de Loures, não têm por aí nada onde estes 650 mil euros fossem melhor empregues???

É preciso ser doutor, ou engenheiro, ou ministro, ou criar uma comissão de inquérito, para perceber como o dinheiro dos nossos impostos anda a ser desperdiçado?
Isto até me deixa doente... é mesmo deitar o dinheiro pela retrete abaixo (literalmente, no caso da Faculdade de Letras de Lisboa!)

Querem mais? Divirtam-se no portal da transparência!

Sugestões de pesquisa: viagens, viaturas, Natal...

Outros candidatos a roubalheira do ano:
"Projecto tempus - viagem aérea Faro / Zagreb e regresso a Faro para 1 pessoa no período de 3 a 6 de Dezembro de 2008" - 33.745,00 euros.

"Aluguer de iluminação natalícia para arruamentos na cidade de estremoz" - 1.915.000,00 euros

"Aluguer de tenda para inauguração do Museu do Castelo de Sines" - 1.236.500,00 euros

"6 kit de mala piaggio Fly para as motorizadas do sector de águas" - 106.596,00 euros
(por este valor compravam 6 automóveis, todos equipados, e ainda sobrava dinheiro!)

O misterioso caso do "Router de 400 euros comprado por 35.000,00 Euros"

E mais que podem ir ver, até cansarem (ou chorarem).

20 de março de 2009

Vamos pôr as coisas preto no branco


Fora a piadinha do título, há de facto coisas que devem ser vistas com olhos de ver.

Para já, o racismo que quase que se pode dizer que é cultural, define como bom o que é branco, ou pelo menos melhor que o que é preto. Não só nas pessoas, até nas expressões habituais o branco é bom, puro, enquanto o preto é mau, ou difícil, ou desagradável.

Para contradizer estas expressões, tivemos recentemente claros exemplos de bom e mau, e de branco e preto, mas trocados. Senão vejamos:

- Barak Obama, ao surgir o escândalo dos prémios (165 milhões de dólares) que iam receber os gestores de uma grande empresa, a seguradora AIG, fortemente subsidiada pelo estado para não falir, escandalizou-se, disse que alguma coisa ia fazer, e, como não foi possível (por falta de tempo, e porque é uma empresa privada) impedir estes prémios, conseguiu finalmente que o congresso dos Estados Unidos aprovasse uma lei, segundo a qual os prémios recebidos por gestores de empresas em que o estado tenha tido que por dinheiro, vão ser gravados com uma nova taxa de imposto: 90%.

- Papa Bento XVI: Visita África, onde existe a maior quantidade de pessoas com SIDA, e não só diz que os preservativos não ajudam em nada, como que diz mesmo que agravam a luta contra a SIDA. O resultado esperável (até por gente próxima a igreja) é um genocídio, milhares de mortos dos que quase que se poderia pedir directamente explicações ao Ratzinger.

Em relação ao primeiro ponto as reacções obviamente vão fazer-se esperar. Aqui os gestores dasgrandes empresas têm ordenados chorudos, não deixam de receber bónus e regalias, independentemente de irem bem ou mal (ou à falência), e não acontece nada. E aqui é quase todo o mundo, não um país ou dois.

Em relação ao segundo, pelo menos, houve reacções um pouco por todo lado. Mas também houve quem apoiasse e apoia. Provavelmente porque não sofrem o problema na pele, e/ou têm dinheiro para o resolver as coisas de outras maneiras.

Neste mundo de doidos passa assim a branco o preto, e a preto o branco. E teremos de mudar alguns ditados e expressões. Percebe-se agora melhor uma frase que dizem que usava bastante o Obama antes das eleições: Não vote em branco! Eu faria o mesmo, como tantos americanos, se pudesse.

6 de março de 2009

Neoliberalismo: Capitalismo marxista


Estava eu hoje de manhã, como todas as manhãs, a ouvir o rádio, no caso o RCP, minuto a minuto (é o nome do programa), e comecei a ouvir, a ouvir...

Primeiro, parece-me que era o senhor Pedro Marques Lopes, comentador político, decide passar da política à economia, e dá-nos uma lição de liberalismo económico às custas dos lucros fabulosos (e mais nos tempos que correm) da GALP no fim do ano passado: Logicamente, se a empresa tem lucros, é bom. Ninguém tem porquê escandalizar-se, as empresas estão para isso, ainda bem que alguma dá lucro, só faltava que o estado lhe tirasse uma parte dos lucros, ou essas bocas do bloco de esquerda (não sei bem o motivo pelo que ele introduziu isto na conversa) de que uma empresa que de lucro não pôde despedir ninguém, só faltava... de aqui a pouco, até vão querer nacionalizar tudo, como se não se tivesse visto já no que isso acaba, nos antigos países de Leste, todos a passar fome.

Depois, aparece (salvo seja) o senhor Camilo Lourenço, comentador de economia (de quem habitualmente gosto bastante, diga-se de passagem), e, ora vejam lá, decide enveredar por um tema mais ou menos político, por um dia. E começa a disparar com que o estado, em vez de meter-se nesses gastos em grandes obras, estradas, comboios, hospitais e escolas, devia era capitalizar os bancos e as empresas, para que fosse gerado emprego, ou até nacionaliza-los durante dois ou três anos, e depois privatiza-los. Porque devem estar em mãos privadas, isso sim.

Bom, depois disso, tive que tirar os fones do ouvido e fiquei a pensar. A pensar se tinha ouvido bem.

Primeiro: O senhor Pedro Marques Lopes esquece que neste país não há concorrência nas petroleiras, há oligopólio e cartelismo. 
Ainda, esquece também que os lucros da GALP devem-se em boa medida a diferença de velocidade na aplicação dos aumentos nas gasolinas por causa do aumento do petróleo e a aplicação das diminuições nos preços por causa da diminuição do petróleo. 
Mas, resumindo, e assumindo que tivesse sido de maneira lícita (legal sim, como sempre. Lícita é outra coisa), se uma empresa dá lucro, ainda bem, está para isso.

Segundo: O senhor Camilo Lourenço distraiu-se, suponho, ao por no mesmo saco hospitais e TGV’s, não pode ser de outra maneira. Mas tendo dinheiro o estado, poderia fazer sentido que capitalizasse os bancos. O estado está para isso mesmo, para ajudar quando faz falta.

Terceiro, e conclusões próprias: Pelo que se vê, e pelo que se vai vendo, não só neste país, deve ser em quase todos, o liberalismo económico está cada vez mais a mudar para um neoliberalismo que se traduz, aproximadamente, num capitalismo dos lucros e marxismo dos prejuízos. 

Mas, como digo, não é só aqui. Em todo o mundo capitalista temos o capital pedindo (exigindo) aos estados a sua intervenção, mas com requintes: O estado deve pôr dinheiro o nacionalizar qualquer banco com prejuízos, mas o estado deve privatiza-lo enquanto estiver saneado. As empresas devem ser ajudadas pelo estado quando têm dificuldades, mas o estado deve ficar afastado totalmente da livre gestão das empresas e dos mercados quando há lucros.

Ou seja, digo eu, o estado deve ser parvo. 

E como eu sou o estado (na parte que me toca), desculpem lá mas não concordo. Acho que há muita gentinha bem habituada a viver a fartazana, que não pode perceber que o estado queira dar dinheiro aos pobres, como se eles (esses miseráveis) fizessem algum, e não lhes queira dar dinheiro a eles, que são os grandes filhos da p...atria. E ainda por cima vão tendo razão, o estado vai-lhes dando...

Repetir esta conversa, uma vez e outra, muitas vezes, pode dar como resultado que por força da repetição a teoria seja aceite. Pensem no que ouvem antes de concordar ou discordar, anda muita ratazana à solta por aí...

25 de fevereiro de 2009

Mário Crespo: Eutanásia e Casamento Gay



Recebi este texto escrito por um jornalista dos que considero bons profissionais, o Mário Crespo. E muitas vezes até concordo com ele. Não é este o caso, em absoluto. Mas transcrevo o texto dele, deve haver muito quem concorde, antes de lhe “responder”. É o que segue:

Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no parlamento, José Sócrates, secretário-geral do Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte de uma parada de costumes onde quer arregimentar todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu lado e propõe que se discuta ao mesmo tempo a eutanásia. Duas propostas que em comum têm a ausência de vida. A união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte. No meio das ideias dos mais altos responsáveis do Partido Socialista fica o vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo" dos Niilistas de Nitezsche. A discussão entre uma unidade matrimonial que não contempla a continuidade da vida e uma prática de morte, é um enunciar de vários nadas descritos entre um casamento amputado da sua consequência natural e o fim opcional da vida legalmente encomendado. Sócrates e Santos não querem discutir meios de cuidar da vida (que era o que se impunha nesta crise). Propõem a ausência de vida num lado e processos de acabar com ela noutro. Assustador, este Mundo politicamente correcto, mas vazio de existência, que o presidente e o secretário-geral do Partido Socialista querem pôr à consideração de Portugal. Um sombrio universo em que se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação, e se institui a legalidade da destruição da vida. O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca reprodutivo e o facilitismo da morte-na-hora, é o fim absoluto que começa por negar a possibilidade de existência e acaba recusando a continuação da existência. Que soturno pesadelo este com que Almeida Santos e José Sócrates sonham onde não se nasce e se legisla para morrer. Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento às uniões homossexuais é um conceito que se vai anulando à medida que se discute porque cai nas suas incongruências e paradoxos. O casamento é o mais milenar dos institutos, concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença (até Francisco Louçã na sua bucólica metáfora congressional falou do "casal" de coelhinhos como a entidade capaz de se reproduzir). E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária) porque é um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido. Tudo o mais pode ser devidamente contratualizado para dar todos os garantismos necessários e justos a outros tipos de uniões que não podem ser um "casamento" porque não são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito por Louçã. E claro que há ainda o gritante oportunismo político destas opções pelo "liberalismo moral" como lhe chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade. São, como ele disse, a escapatória tradicional quando se constata o "fracasso político-económico" do regime. O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam chegou a essa fase. Discutem a morte e a ausência da vida por serem incapazes de cuidar dos vivos.

Para já, é quase aberrante juntar na mesma sacola, de “ausência de vida”, o casamento homossexual (sinto pelo senhor Mário, mas continuo a preferir o português, por muito fino que seja o “gay”) e a eutanásia. Faz mais sentido juntar estas ideias, como pretende Almeida Santos, dentro de uma discussão sobre ética e moral social, sobre valores e direitos fundamentais das pessoas, trazendo a colação precisamente dois dos mais evidentemente faltos na nossa elite (não sei se na nossa sociedade, a ver vamos). 

Sobre a eutanásia parece que mais não diz do que é facilitismo. Espero que não se veja ele na situação em que muitas pessoas em determinado momento se encontram, a sofrer como verdadeiros animais e sem que lhes seja permitida uma morte digna. Aliás, não lhe desejo isso a ninguém. Mas qualquer familiar de doentes com cancros terminais poderia argumentar sobre o tal “facilitismo” do senhor Mário.

Em relação ao casamento, só posso pensar que de facto o senhor Mário tinha um dia muito pouco inspirado e mais nada sobre o que escrever, porque só o que lhe pagam por essas linhas é que pode justificar tê-las escrito. Ora vejamos:

- Uma união biologicamente estéril; Isto não sei se o senhor Mário considera mau. Existem pessoas estéreis. E celebram uniões. E casamentos. E acasalam, mesmo que sejam estéreis (aliás, só um precisa de o ser para o casal não ser reprodutivo). Acho que é um argumento muito, muito fraco.

- Se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação; Vá lá, parece a inquisição a falar, até dava para rir. O casamento é para a procriação? Em que século vive o senhor Mário? E o facto de haver outros casamentos que não sejam para a procriação, destrói este único mecanismo? Parece muito frágil, não é? E todos os heterossexuais que casam com a intenção clara e muitas vezes levada à prática de não ter filhos, estes são o quê?

- Um "casamento" nunca reprodutivo; Pois. Acho que, definitivamente, o senhor Mário anda a confundir casamento, de casar, juntar coisas que encaixem bem, com acasalamento, que é o que de facto pode ser ou não reprodutivo. E que os homossexuais também não devem, parece-me, rejeitar. Só mesmo a parte reprodutiva. Mas, se alguma vez ler isto, diga-me, senhor Mário: Você quando acasala, é sempre no intuito reprodutivo? A sério? Ou com esse intuito é uma percentagem de vezes bastante parecida aos homossexuais? (supondo que o senhor 1 de cada 100 vezes tenha esse intuito, e os homossexuais 0 de cada 100, a diferença parece ser de 1%, não mais...)

- O casamento é o mais milenar dos institutos; Se por casamento se entende a junção de dois indivíduos que partilham a sua vida, interesses, gostos, penas e alegrias, de facto é muito antigo, não se fica só pelo ser humano, e nunca foi exclusivo de dois indivíduos de sexo diferente. Mas sim maioritário, isso concordo, e acho normal. Aliás, acho que o normal é a maior parte dos indivíduos serem heterossexuais, e uma parte menor ser homossexual, como acontece nos hominídeos em geral, e, pelo que se vai descobrindo, pelo menos nos mamíferos em geral. Não acho decente a discriminação de ninguém por esse motivo.

- Concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença; Alguém que me explique quem é que lhe disse a este senhor o motivo pelo que foi concebido (deve ser alguém com boa memória e bastante idade...). Aliás, a maneira mais antiga, e ainda vigente, de manter algumas espécies tendo os dois géneros em presença, e a tribo, nos humanos, como é a alcateia nos lobos. Há outras espécies nas que, de facto, o casal é a maneira primordial de relação, mas não o Homo sapiens, isso é uma falácia fácil e óbvia.

- É um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido; Mais uma pequena mistura de conceitos à maluca. Parece-me obvio que as sociedades são elas próprias, per se, o mecanismo continuador das sociedades, e o casamento só é uma das suas peculiaridades. Existem (acredite) filhos fora dos casamentos, tanto como existem casamentos sem filhos. E, ainda, nas grandes sociedades sempre houve grupos que não se casavam tipicamente, por diferentes motivos, e nem por isso deixavam de contribuir para o crescimento da sociedade. Falo dos soldados, necessários para defender ou conquistar, e que também iam deixando filhos por aí, ou os religiosos que acreditavam (alguns ainda acreditam) que exerciam melhor a sua profissão solteiros, e não são poucos os casos que também deixam filhos algures, ou as prostitutas, sempre tão vilipendiadas e tão necessitadas (não existiriam em nenhuma situação se não tivessem clientes, muitos deles insatisfeitos com os seus casamentos tão reprodutivos), e também elas vão deixando os seus filhos por aí... E muitos casais, heterossexuais ou homossexuais, que sempre houve, não têm filhos. E no total, a sociedade continua...

Espero pelo bem do senhor Mário que não volte a ser chic a homossexualidade, tal como foi na Grécia clássica, quando o grande Sócrates dizia que a única maneira de se relacionarem profundamente e se compreenderem convenientemente o professor e os alunos era mantendo também relações sexuais, as mais puras, com eles (Isto tudo é descrito por Platão, o seu discípulo mais aventajado). E, já agora, olhe à sua volta, veja o mundo evoluído, veja as tendencias, leia os direiros do homem... E arranje melhores assuntos sobre os que escrever, ou, quando menos, poupe-nos o insulto, e arranje melhores argumentos, que você sabe.

18 de fevereiro de 2009

O cardeal e os homossexuais


O cardeal falou. E o mundo pára a ouvir. 

Há pouco eram os mouros a roubar-nos as castas e puras moças. Agora, o cardeal é outro, mas cardeal na mesma, e são os homossexuais a querer casar e roubar-nos os nossos órfãos de estimação.

Para já, concordou este cardeal com o anterior, em relação aos mouros. 

Não sei se também acha que ainda nos falta uma décima cruzada, ou se acha que assim vai o mundo por causa de se ter acabado com a Santa Inquisição (e cuidado se vêm este link porque deve ter sido feito por um padre, até a wikipedia avisa da sua parcialidade...).

Mas, vamos lá, com citas do Público
A homossexualidade não é normal, temos que dizê-lo (...) Não é normal no sentido de que a Bíblia diz que quando Deus criou o ser humano, criou o homem e a mulher. É o texto literal da Bíblia, portanto esse é o princípio sempre professado pela igreja

Por tanto, e uma vez que os homossexuais não são nem homens nem mulheres, segundo este individuo, então não são normais. 

Será que este senhor entende que é menos normal, biologicamente, ou como humano, ou pessoa, fazer sexo com alguém do mesmo sexo, do que não faze-lo com ninguém, que parece ser a aberração maior da Natureza, praticada pelo Cardeal e seus acólitos? 

Ou será que esta aberração não conta, porque afinal não é assim tão praticada

Verifiquem este link, e a wikipedia, se tiverem dúvidas em relação ao naturais ou antinaturais das relações homossexuais. Quem ouviu falar de animais que não tenham sexo de nenhum género? 
Quem é o não normal?

Depois, o senhor argumenta com mais convicção ainda, toucando-nos em pontos mais sensíveis, as crianças: 
[Os homossexuais] não podem providenciar a formação das crianças, porque uma criança para ser formada normalmente precisa de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães
Por tanto, os homossexuais não podem formar crianças. 

Nem as viúvas (o que deve ter dado gerações completas de tarados pela Europa toda no século passado, por causa das guerras). Nem os viúvos. E vamos proibir as mães solteiras. 

E, essas maravilhosas crianças que não devem ser adoptadas por homossexuais, entretanto ficam, alguém que me explique, ao cuidado de qual pai e qual mãe? Ou é numa instituição onde varias adultas (típicamente senhoras, mas admito que nisto haja de tudo) cuidam de um monte de miúdos? 

Ou, ainda, será este senhor dos que acha que, se um casal homossexual tem algum filho adoptado, lógicamente vai deixa-lo a ver a televisão na sala enquanto o casal, também na sala, se dedica a fazer "aquilo"?  Será que pensa que os heterossexuais fazemos isso à frente dos nossos filhos?

Será que uma criança fica melhor formada crescendo com um casal "normal" em que a mãe leva porrada do pai bêbado dia sim, dia não, ou com um casal "anormal" de homossexuais que se tratam como pessoas um ao outro?

De todas as maneiras, num assunto de direitos humanos, se podem ou não casar, ou adoptar, ou o que for, determinadas pessoas, tendo como condicionantes ou não as suas inclinações sexuais, o quê que a igreja tem a dizer em relação a isto? Quem é a igreja para se intrometer, num estado
 não religioso?

Claro que, como diria o Cardeal, então vamos tratar os homossexuais como pessoais normais? E aos mouros, também? Mas aonde vamos chegar nesta sociedade maluca? Ainda vão querer até que uma mulher celebre uma missa, não é? Tarados...

Em fim, Cardeal, deixe-me recomendar-lhe um livro no que poderá aprender muitas coisas. Se não encontra nada nele para aprender, isso vai querer dizer que pelo menos poderá aprender a ficar calado. O livro é Sexo, Padres e Códigos Secretos - 2000 anos de abuso sexual na Igreja Católica, e parece que é um grande éxito, editado em Portugal já em 2007, e do que já se fez um filme, Deliver Us From Evil, como pode ver.

13 de fevereiro de 2009

Moralidade Política


Recebi recentemente alguns exemplos aos que se aplica o problema. Nada ilegal, suponho. A questão nem sempre, ou nunca, nestes casos, será a legalidade, mas a moralidade não existe? Vejam isto:

Fernando Nogueira: Foi Ministro da Presidência, Justiça e Defesa, agora é Presidente do BCP Angola.

José de Oliveira e Costa: Foi Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, agora é Presidente do Banco Português de Negócios (BPN) (ou preso, a ver vamos).

Rui Machete: Foi Ministro dos Assuntos Sociais, agora é Presidente do Conselho Superior do BPN e Presidente do Conselho Executivo da FLAD.

Paulo Teixeira Pinto: Foi Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, agora (já não é) Ex-Presidente do BCP. Saiu depois de 3 anos de trabalho, com 10 milhões de indemnização e 35.000 euros / mês (15 meses por ano) para toda a vida (é a reforma do homem...).

António Vitorino: Foi Ministro da Presidência e da Defesa, agora é Vice-Presidente da PT Internacional, Presidente da Assembleia-geral do Santander Totta, e ainda comentador da RTP.

Celeste Cardona: Foi Ministra da Justiça, agora é Vogal do CA da CGD.

José Silveira Godinho: Foi Secretário de Estado das Finanças, agora é Administrador do BES.

João de Deus Pinheiro: Foi Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros, agora é Vogal do CA do Banco Privado Português (quer dizer, agora, agora, já não sei...).

Elias da Costa: Foi Secretário de Estado da Construção e Habitação, agora é Vogal do CA do BES.

Ferreira do Amaral: Foi Ministro das Obras Públicas (e decidiu, ele, que todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira passariam à Lusoponte), e agora é Presidente da Lusoponte (e tem de renegociar o contrato, que ele mesmo processou, quando estava "do outro lado da bancada").

Armando Vara: Foi Ministro-adjunto do Primeiro-ministro, agora é Vice-Presidente do BCP. Segundo consta do site do BCP , este senhor é Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo, e apresenta meritoriamente um curriculum (formação e experiência académica) exemplar para alguém neste cargo: Em 2005 uma Licenciatura em Relações Internacionais (UNI), e, o ano anterior, 2004, uma Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE). Logo conseguiu tirar uma pós-graduação antes da licenciatura, o que obviamente o habilita para desempenhar não já qualquer função difícil como até algumas impossíveis.

António Pinto de Sousa: Não foi nada de especial (digo eu). Agora é o novo responsável máximo pelo gabinete de comunicação e imagem do IDT (Instituto da Droga e Toxicodependência), com competências atribuídas para empossar quem quiser, independentemente da sua qualificação académica e profissional, para os cargos dirigentes do Instituto, contrariando os próprios estatutos do IDT. É também (e foi) irmão de José Sócrates.

Vasco Franco: Foi nº 2 da câmara de Lisboa, durante as presidências de Jorge Sampaio e João Soares. Antes do que isso foi ferido em combate em Moçambique (depois do 25 de Abril?!). Antes do que isso tirou o Curso Geral do Comércio (equivalente ao 9º ano actual). Agora, tem 50 anos, saúde perfeita, mais de 3.035 euros mensais de reforma da câmara de Lisboa, 900 euros de reforma de ferimento de guerra, e administrador da Sanest, sociedade de capitais públicos, comparticipada pelas Câmaras da Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra e pela empresa Águas de Portugal, que gere o sistema de saneamento da Costa do Estoril, auferindo por isso 2.000 euros mês (era o dobro, mas, azar, para autorizar a acumulação de vencimento o governo reduziu-lhe os 4.000 / mês previstos para a metade). Este lugar de administrador foi-lhe oferecido pelo senhor Joaquim Raposo, presidente da Câmara da Amadora, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa.

Isto tudo, não esqueçam, é legal. Pelo menos eu não acredito que haja aqui nenhuma ilegalidade. Mas, volto a perguntar, e a moralidade? Ética, estes senhores sabem o que é? Gozar com o Zé-povinho, sabem. É óbvio.

Acrescento que as informações convêm lembrar que quase sempre são direccionadas pelo informador, e que nestes dias se recolhem mais facilmente informações sobre quem está agora no governo, mas por interesse do emissor da noticia, não porque os dos outros partidos não se encontrem em idênticas situações. E apareçam muito mais, como já a conteceu, quando estão no governo, claro.

E há muitas, muitas mais destas pequenas anedotas, aparecem por todo lado.

Algumas destas situações, acredito, têm toda a razão de ser, a pessoa tem idoneidade tanto para o cargo anterior como para o actual, e um cargo não tem conflitos de interesses com o outro.

Mas há outras que não parece que seja essa a situação: A mesma pessoa tem idoneidade para exercer de Ministro da Presidência, Ministro da Justiça, Ministro de Defesa, e Presidente de um banco? Ou, uma ministra de Justiça passa a vogal do conselho de administração de um banco? Ou um ministro de Educação, e depois de Negócios Estrangeiros, será que ele é m ais vocacionado para o mesmo lugar (vogal do CA de um banco)?

Por vezes, até poderá haver quem ache que tal vez se poderia ver algum conflitozinho de interesses entre fazer contratos brutais como ministro e depois passar a gerir a empresa contratada...

E as coisas das reformazinhas, que são muitas, todas legais (até porque muitas vezes quem decide a reforma é o mesmo que se reforma, como no Banco de Portugal), em fim, não correspondem com a média da generalidade das pensões neste pais, parece-me.

Resumindo: poderá ser tudo legal, mas, quando vai haver mais (ou pelo menos alguma) moralidade nos sistema? Não têm vergonha?

 

9 de fevereiro de 2009

Os nossos jornalistas (!)


Liguei eu a televisão, na SIC notícias, no domingo passado, às 21:00. Pensei que houvesse um telejornal, nessa hora. Não há, há só um pequeno resumo de 5 minutos, porque depois emitem outro programa (Ecoeuropa, que também acho bom).

Mas, nesse 5 minutos, davam um pequeno resumo, só "cabeçalhos", das principais noticias do dia, para o pessoal se manter informado. Pensava eu.

Couberam 3 noticias, nesses 5 minutos: o jogo do Porto e do Benfica, 3 minutos, o do Sporting e o Braga, 30 segundos, e um assalto em que roubaram um carro num stand de automóveis e o facto foi filmado, o resto.

E não aconteceu mais nada nesse dia. Ainda bem. E ainda se queixam alguns políticos (quando lhes convêm) de que os jornalistas vasculham nas suas coisas. Nem sei porquê.

No dia a seguir, de manhã, oiço no rádio uma noticia (que devia ter-lhes passado ao lado no domingo à noite, por não ser importante, digo eu) em relação aos incêndios na Austrália. Já lá vão mais de 130 mortos. Mas, desculpem, não foi isso que ouvi, isso é uma informação minha. O que eu ouvi foi: Grandes incêndios na Austrália, parece que não há feridos nem mortos entre os portugueses que lá moram, que são uns 15.000, depois pequena entrevista com o cônsul de Portugal na Austrália, até lhe perguntaram se ele estava a ajudar aos portugueses... (o homem até respondeu que não pode ajudar se não tem a quem, se ninguém lhe pediu ajuda...), e, no fim, para acabar a noticia, disseram que já lá iam mais de 100 mortos, dos quais nenhum português (repetiram novamente).

Assim, uma catástrofe pode ser tão grande como quiser, que vai ser medida em função do nº de portugueses afectados, e mais nada. 

Compreendo que haja um destaque para os portugueses, mas que só conte isso... O resto não são pessoas? Ou só damos a parte da notícia que possa dar mais audiência? E, isso sim, como se viu no Domingo, desde que não haja futebol, é obvio. Ou que haja algum sucesso espectacular que faça com que mais alguém olhe para a televisão, independentemente do seu interesse jornalístico: o roubo de um carro duvido que seja nenhum dia a notícia do dia. 
Gostava eu que um dia fosse, mas duvido que chegue. 
Isso sim, uma vez que o roubo foi filmado, então é uma curiosidade, passa a atrair ao pessoal, que não liga nenhum ao roubo do carro, mas tem imagens de como o fizeram, espectacular!

Isto tudo em relação à SIC noticias e ao RCP, que considero o melhor canal de noticias da televisão e uma emissora de radio séria. Se começar-mos a falar dos outros canais ou emissoras... mas para mi é difícil, porque raramente os vejo/oiço, já me deixei disso há algum tempo. 

Mesmo assim oiço falar, claro, da grande noticia de que um pastor mordeu na orelha a um burro que não se afastava do seu caminho, lá na aldeia de pisa-as-botas, no tras-os-montes profundo... (A noticia é exemplificativa e inventada, façam o favor os senhores jornalistas de não a usarem!), e isto pôde ocupar 10 ou 15 minutos do telejornal do horário nobre de qualquer um dos canais. E não me parece que esteja a exagerar.

Para quando teremos um jornalismo minimamente sério, que tente dar as noticias, em vez de ir ao umbiguismo, aos sucessos espectaculares ou chocantes, aproximando cada vez mais os jornais, telejornais e afins da revista Caras ou outras semelhantes, para obter maiores audiências seja como for? 

Será que os jornalistas não têm nenhuma responsabilidade nisto? Será que é lícito tentar aumentar as audiências, por cima de qualquer tipo de ética profissional? A ética agora é só coisa do passado, de saudosistas? (Também no jornalismo, quero dizer, porque noutras áreas é obvio que sim). 

Vamos bem, vamos.

7 de fevereiro de 2009

Hoje não passo multas!


Bonita situação.
Numa rua, com duas faixas, estaciono frente à minha casa, na faixa de rodagem (desse lado, não há estacionamentos). Em meia hora sou multado. É natural, o estacionamento é ilegal. 
Três dias depois, hoje, saio à rua e vejo dois policias parados, a conversar, mesmo frente à minha porta. A faixa de rodagem frente à minha casa, na rua toda, está cheia de carros. Frente aos cafés (na rua há vários) estão até em segunda fila, mal deixando passar (por meia faixa) aos carros que circulam.
Pergunto aos policias se vão multar a essa gente toda (até porque os que estão em segunda fila têm lugar para estacionar, correcto, a menos de 20 metros, mas não deve dar tanto jeito para o pequeno almoço no café...). É qualquer coisa assim:
- Bom dia.
- Bom dia.
- São vocês os que passam as multas, não são?
(sorriso dos policias) - Somos.
- E não vão passar multas a todos estes carros mal estacionados? (e estendo o braço indicando).
- Hoje é fim de semana.
(Chocante, eu ainda não sabia que há leis para cumprir só em dias úteis)
- Pois, mas estão mal estacionados.
- Pois estão. (e mais sorrisos. De facto, estavam bem dispostos, e foram extremamente educados, isso devo reconhecer).
- Mas eu deixei aqui o carro, onde agora está este outro, na Quinta-feira, durante meia hora, e fui multado.
- Pois, é normal, está proibido estacionar.
- Mas se esta proibido, multem aos que estão agora. Senão, a gente vê que vocês estão aqui, os carros mal estacionados, e não fazem nada, e acham que é permitido estacionar, não é?
- Oiça, é fim de semana (a sorrir e com amabilidade)
- E os que estão encima dos passeios, que nem deixam passar a gente?
- ... (não respondeu)
- Então só multam de vez em quando, quando é preciso que contribuamos mais um pouco para as finanças públicas?
Olharam um para o outro, a sorrir ainda mais abertamente, pouco faltou para rir, e o que falava, disse-me:
- Eu hoje não passo multas.
- Já percebi - disse eu, e fui à minha vida.

E eu pensava (inocente?) que dos poderes do estado, executivo, legislativo e judicial, os policias só teriam o executivo, e pontualmente... 
Pois não, não é assim. Pelos vistos podem utilizar todos. Passam as multas, mas também decidem quando ou a quem, arbitrariamente. E ainda devem utilizar o poder legislativo, porque não me lembro de a Assembleia da República ter escrito algures que estacionar na faixa de rodagem é proibido excepto aos fins de semana.

Assim,  estas pessoas, funcionários do estado, num emprego que não requer grandes estudos ou nível cultural, a quem eu (e todos nós) pago o ordenado com os meus impostos, enfim, gente normalíssima, sem nenhum facto que os diferencie do comum dos mortais, podem vir a decidir, conforme a sua conveniência, dependendo da própria vontade ou de como se levantaram da cama nesse dia, multar ou não a qualquer um, de maneira totalmente arbitraria.

Ou estarei enganado e de facto têm ordem de multar uns dias, e têm ordem de não multar noutros, dependendo de escuros desígnios das suas chefias?

Bom, cá fica o facto, e espero que da próxima vez que eu estacione ilegalmente (o que não devo fazer, reconheço), venha a coincidir com um dia em que não passem multas...

2 de fevereiro de 2009

ERSE - Outra vez as empresas públicas

Recebi este texto, que passo a resumir um pouco:
Mais uma golpada - Jorge Viegas Vasconcelos despediu-se da ERSE
Era uma vez um senhor chamado Jorge Viegas Vasconcelos, que era presidente de uma coisa chamada ERSE, ou seja, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, organismo que praticamente ninguém conhece e, dos que conhecem, poucos devem saber para o que serve. 
Mas o que sabemos é que o senhor Vasconcelos pediu a demissão do seu cargo porque, segundo consta, queria que os aumentos da electricidade ainda fossem maiores. Ora, quando alguém se demite do seu emprego, fá-lo por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade empregador, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios. 
Porém, com o senhor Vasconcelos não foi assim. Na verdade, ele vai para casa com 12 mil euros por mês - ou seja, 2.400 contos - durante o máximo de dois anos, até encontrar um novo emprego. ... porque...
... «o regime aplicado aos membros do conselho de administração da ERSE foi aprovado pela própria ERSE». ... ...Dizendo ainda melhor: o senhor Vasconcelos (que era presidente da ERSE desde a sua fundação) e os seus amigos do conselho de administração, apesar de terem o estatuto de gestores públicos, criaram um esquema ainda mais vantajoso para si próprios, como seja, por exemplo, ficarem com um ordenado milionário quando resolverem demitir-se dos seus cargos. ... 
...O senhor Vasconcelos recebia 18 mil euros mensais, mais subsídio de férias, subsídio de Natal e ajudas de custo....  
Aqui, uma pergunta se impõe: Afinal, o que é - e para que serve - a ERSE? 
... após receber uma reclamação, a ERSE intervém através da mediação e da tentativa de conciliação das partes envolvidas. Antes, o consumidor tem de reclamar junto do prestador de serviço. 
(??? Portanto??? Faz o quê???)
Bom, acho que é uma boa dica, dá que pensar. Não só pelo escândalo do ordenado, ou pelo escândalo do dinheiro que leva quando se despede, como por pensar que o dinheiro que este senhor usa e gasta é meu (e seu), dos impostos de todos os portugueses. E, ainda pior, não é, nem de longe, caso único (aliás, para estas situações o maior escândalo que conheço é o do banco de Portugal).
Mas não nos podemos queixar muito: estes casos sabem-se, são conhecidos (cada vez mais e mais depressa), e um dia sabe-se que um ministro contrata a nora para consultora de não sei o quê sem que tenha acabado o curso, o seu tio passa a ser conselheiro de administração de não sei qual empresa pública, quando antes era cozinheiro e até a casa era administrada pela sua Mariazinha... E sabemos isto tudo e não fazemos nada
E enquanto não comecemos, todos nós, a fazer realmente alguma coisa, a não permitir estes factos, não chegaremos longe como país.
Temos que mostrar indignação, dizê-lo alto e claro, e usa-lo nas votações. E esquecer, se queremos avançar alguma vez, que somos pequeninos, que não vou ser eu quem diga/faça, eu sozinho não vou a lado nenhum e depois eu é que me lixo, e asneiradas semelhantes que conseguiram e conseguem converter esta terra na terra prometida dos gandulos audazes, que fazem com que qualquer um que queira espezinhar o próximo, encontre logo meia dúzia disposta a ser espezinhada desde que não seja muito forte, porque, o que é de fazer eu, pobrezinho, tão pequenino...?
Podemos acabar com o espíritu com que nos habituaram durante muitos anos. Não de um dia para outro, mas aos poucos podemos. Desde que todos nós, cada um de nós, tente faze-lo sem esperar pelos outros, faze-lo por si mesmo, pela sua familia e pelo seu país. Podemos. 
Queremos?

27 de janeiro de 2009

Crise? Qual qué?

Vejam lá, se não tem razão o Arnaldo.

Não que não haja crise, há. É óbvio. A coisa está negra para muito boa gente, aumenta o desemprego e os preços, mantém-se ou diminui o ordenado (excepto para alguns, como sempre).

Temos de facto problemas financeiros graves, relativamente agravados pela má gestão dos banqueiros. Mas esta não deve ser a parte essencial (a má gestão), uma vez que vivemos com ela há muitos anos e conseguíamos ir passando. Só se destapou o tacho das moscas (aquelas que mudam e a m. continua a mesma) precisamente por causa da dita crise, causada por gatunos de maiores dimensões e muito menor experiência do que os nossos. Deveriam fazer uns cursos em Portugal.

De todas as maneiras, o ponto de vista do Senhor Arnaldo também é saudável. Por um lado, houvesse muita gente com essa filosofia e a crise, mesmo existindo, seria menor ou passaria muito mais rápido. Por outro, a televisão vende a sua mãe por audiência, todos os canais o fazem. Não têm vergonha nenhuma e dizem e publicitam qualquer boato de qualquer tema sem credibilidade nenhuma desde que de audiência. E a crise não é excepção, obviamente.

Recomendo ao pessoal que tenha precaução, a crise existe, mas que se lembre um pouco deste senhor Arnaldo, porque acredito que seguindo o seu conselho não digo que nos façamos ricos, mas pelo menos ficaremos menos pobres.

23 de janeiro de 2009

Comissão Nacional de (Des)Protecção de Dados


Aparecia no Publico qualquer coisa como:
Ficheiros com documentos originais do processo Casa Pia ... eram partilhados, sem segurança, por todos os funcionários da CNPD ...
...dos 18 ficheiros constam relatórios da polícia judiciária sobre os depoimentos feitos em 1982 por alunos desaparecidos da Casa Pia e que acabariam por ser encontrados na casa de Jorge Ritto em Cascais. Os depoimentos envolviam o ex-embaixador e Carlos Cruz. Constava também dos ficheiros o depoimento feito em 2003 pelo socialista Ferro Rodrigues, mas este, entretanto, desapareceu. Um informático confirmou que o ficheiro existiu e que constava da base de dados da CNPD.
O conteúdo destes ficheiros foi detectado nos dias 10 e 11 deste mês por um dos funcionários da CNPD, que no dia 12 de Janeiro reportou o caso ao presidente Luís Silveira, pai do secretário de Estado da Justiça Tiago Silveira, exigindo que o caso fosse participado à Procuradoria Geral da República. No dia 13 o ficheiro com o depoimento de Ferro Rodrigues já tinha desaparecido. Mas toda a informação constava dos ficheiros da CNPD desde 2004...
Ao “Correio da Manhã” e ao “Diário de Notícias” a Procuradoria afirmou que não recebeu ainda uma queixa formal e que ainda não foi aberto um inquérito.
Assim, temos uma comissão nacional de protecção de dados, que não protege os nossos dados, que não protege os seus próprios dados, e que parece que se deve desconfiar ainda mais deles do que de aqueles a quem eles deviam vigiar... Estamos feitos!
Se complicado é que existam dados de um processo judicial na CNPD, ainda mais o é que circulem sem segurança (e nesta instituição!), e ainda mais o é que o presidente não vá rápido e depressa à procuradoria, quando ainda por cima já tal lhe tinha sido solicitado. O facto de entretanto terem desaparecido alguns dos documentos não parece complicado, parece crime. Mas, apostem comigo, não lhe vai acontecer nada a ninguém, nem nada vai ser investigado, nem este caso é falado sequer de aqui a pouco. Apostam?

20 de janeiro de 2009

Regionalização. Sim ou não?


A regionalização foi em tempos muito discutida. Eu tinha a mina opinião, e mantenho-a. No entanto, "perdi", uma vez que na altura, dando um claro exemplo do que um bom político português pode fazer, até quem propôs a ideia solicitou que se votasse contra (?!?).

Parece que novamente volta a estar a questão encima da mesa política. Vamos ver se é desta vez que vai à frente.

Segundo o economista José Reis, citado pela Lusa, e por sua vez pelo IOL diário, «Hoje em dia, o Estado não tem uma racionalidade territorial. Não temos na administração pública valorizado as instâncias que levem a que, do ponto de vista territorial, as decisões sejam mais eficazes», e ainda «Cada ministro pensa o território à sua maneira. As sociedades modernas precisam de ter o Estado bem organizado para responder aos problemas concretos. Um Estado organizado com lógica territorial é um Estado menos burocrático, menos centralista e menos ineficiente»

Fala depois, não vou copiar o artigo todo, dos inimigos da ideia, de solidariedade entre regiões, de coesão territorial (o "monstro"), e, para resumir, do custo administrativo e financeiro.

Concordo com a generalidade do artigo, como já tinha indiciado antes. E passo a explicar as minhas razões:

Acho que haveria que criar mais "tachos". Cada novo "tacho" poderia ficar com, digamos, uma percentagem do dinheiro destinado à sua região. Lutaria por tanto para obter mais dinheiro para a sua região, obviamente para aumentar o valor da sua percentagem. E mais dinheiro ficaria na sua região, para o desenvolvimento real. E o resultado final seria positivo para todas e cada uma das regiões.

Pode resultar confuso, vou pôr um exemplo: O novo senhor de Beja recebe, digamos, 1000 do estado para a sua região. Ele e os seus amigos ficam desde logo com 100. Beja fica com 900. Se o senhor de Beja conseguir obter do estado 1200, ele e os seus amigos já podem ficar com 120. E Beja passaria a ficar com 1080. Todos ganham. Sem esquecer que, neste imaginário, o que actualmente é gasto pelo estado centralista em Beja corresponderia, aproximadamente, a 300 (e já com sorte).

Ainda, o senhor de Beja do exemplo, fica também com uma percentagem da própria produção de Beja, pelo que passa a estar muito interessado (de forma egoísta, claro, mas funciona) no crescimento da economia de Beja. Não na de Lisboa, nem especificamente na de Portugal, mas na de Beja.

E esta é a base da regionalização. Ainda há que acrescentar qualquer coisa de concorrência entre regiões, haveria que estabelecer uma taxa de solidariedade entre elas, etc. 

Mas imaginem este esquema absolutamente simplificado: O 50% da produção total de cada uma das regiões vai para o estado. O resto fica, logo quem produz mais tem mais. O  estado precisa de financiamento, e retira digamos 20% para o seu funcionamento. O resto, o 30% sobrante é redistribuído entre todas as regiões novamente, mas desta vez dependendo da sua renda per cápita. Não era bonito?

Faltam aqui "pequenos pormenores" como transferências de poderes (saúde, educação, etc.), que deverão ser os que mais problemas tragam, porque mexem com muitos mais "tachos" do que o "governo regional" em si, não por outro motivo.

Mas, mesmo assim, acho que podemos, e devemos, fazê-lo, para bem dos nossos filhos.

19 de janeiro de 2009

País do faz de conta

Este país do faz-de-conta é cada vez mais uma anedota pegada. Ora atentem lá nisto:
EXEMPLO 1
No Diário da República nº 255 de 6 de  Novembro 2008, no aviso nº 11 466/2008 (2ª Série), declara-se aberto concurso no I.P.J. para um cargo de "ASSESSOR", cujo vencimento anda à ronda de 3500  EUR (700 contos). Na alínea 7:...
" Método de selecção a utilizar é o concurso de prova pública que  consiste na ... Apreciação e discussão do currículo profissional do candidato."
EXEMPLO 2
No Aviso simples da pág. 26922, a Câmara Municipal de Lisboa lança concurso externo de ingresso para COVEIRO, cujo vencimento anda à roda de 
450 EUR (90 contos) mensais. "...
Método de selecção:
Prova de conhecimentos globais de natureza teórica e escrita com a duração de 90 minutos. A prova consiste no seguinte:
1. - Direitos e Deveres da Função Pública e Deontologia Profissional;
2. - Regime de Férias, Faltas e Licenças;

3. - Estatuto Disciplinar dos Funcionários Públicos.
Depois vem a prova de conhecimentos técnicos: Inumações, cremações, exumações, trasladações, ossários, jazigos, columbários ou cendrários.
Por fim, o homem tem que perceber de transporte e remoção de restos mortais.
Os cemitérios fornecem documentação para estudo. Para rematar, se o candidato tiver:
- A escolaridade obrigatória somará + 16 valores;
- O 11º ano de escolaridade somará + 18 valores;
- O 12º ano de escolaridade somará + 20 valores.
No final haverá um exame médico para aferimento das capacidades físicas e psíquicas do candidato.
Não sei se vale a pena comentar o assunto, ou simplesmente é autoexplicativo. Assim vamos. Já agora, alguém conhece um sinónimo para "apreciação e discussão do currículo profissional"?

18 de janeiro de 2009

TGV - Fazemos? Ou temos que fazer?

As opiniões de Manuela Ferreira Leite sobre o TGV têm vindo a revelar 
bastante ligeireza a tratar de um assunto muito relevante para Portugal. Vamos por partes. A construção do TGV foi sancionada, em 2003, por um acordo entre Portugal e Espanha, assinado na Figueira da Foz, pelo então 
primeiro-ministro, Durão Barroso e pela ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Só isto já devia levar a algum recuo à líder do PSD, e impedi-la de dizer hoje, mesmo sob o argumento da crise, que uma vez chegada ao Governo se "risca por completo" o projecto. Por outro lado, um governo de um país da União Europeia não pode, ou não deve, denunciar unilateralmente acordos com outros Estados membros. 

A construção do TGV tem apoios comunitários atribuídos a esta obra em concreto. É demagogia defender a reorientação do investimento quando as normas da UE não permitem a transferência das verbas. E, no fim da linha de argumentação, podemos questionar-nos se Portugal pode ficar de fora do projecto de Alta Velocidade Europeu.

Lido este comentário (no DN), parece evidente que falta alguma seriedade na política. Tudo serve eleitoralmente, e cada vez mais as pessoas vão ficando cansadas. E só não exprimem mais o desgosto porque não há alternativas, parece que temos que escolher entre o mau e o pior.

Ainda mais problemático é que não me parece um problema da Dona Manuela, nem do seu partido: O problema é de muita mais gente, em todos os partidos políticos (poderá haver excepções, mas não me parece): Sempre que der jeito, diz-se qualquer barbaridade, na boa. Sempre haverá alguém que acredite, e, entretanto, como com os outros que se apercebam, também não, nunca, acontece nada de especial, por tanto...

Mas, reparem bem, porque acontece muita vez este tipo de situação absurda: O assunto em causa é um tratado assinado pela própria com outro estado da UE e que utiliza apoios comunitários na sua execução. E ela fala de para-lo. Poderia fazê-lo (se fosse a Primeira), mas supunha que a senhora não tinha palavra, que tratava a outro de membro da UE com se fosse um tótó qualquer, e que seria sancionada pela UE pela alteração ou pelo menos não receberia essas verbas para Portugal (o que sem dúvida algum outro estado agradeceria, isso devo reconhecer).

Assumo que a senhora não é parva, acho evidente. Portanto: Não tem mesmo vergonha?

15 de janeiro de 2009

A China em crescimento


A china passou a ser a terceira potência económica mundial, à frente da Alemanha. Dizem que em mais 3 ou 4 anos poderá ultrapassar também o Japão. Isto é bom para nós (ocidente)? e para os chineses? e para o mundo? 

Eu acho que para os chineses sim, para nós não, para o mundo vamos ver.

Motivos: Uma boa parte do crescimento da China baseia-se na fabricação de todo tipo de aparelhos, instrumentos, brinquedos, etc, para venda no ocidente. O nosso nível de vida depende bastante da fabricação barata na China. Se eles deixam de fabricar tão barato (porque cresceram e aumentou o seu nível de vida), ou utilizam uma maior parte da sua produção no mercado interno (porque como cresceram, há mais chineses com mais dinheiro disponível), todos estes artigos devem encarecer rapidamente.

Ao mesmo tempo, se encarecem, o ocidente poderá comprar menos (se houver alternativa, o que é duvidoso) e isso poderia travar o crescimento chinês... a não ser que de facto o seu mercado interno tenha já crescido o suficiente. Se for este o caso, ainda poderão inverter-se as posições tradicionais dos mercados ocidental e chinês.

Suponho que não virá a acontecer esta situação, porque de alguma maneira o mundo ocidental deverá trava-la, já seja como habitualmente o faz (potenciar algum grupo extremista, algum golpe de estado, fazer pressão económica, subornar dirigentes ou alguma outra das brincadeiras clássicas dos ocidentais para com os outros), ou de alguma outra maneira mais inteligente, por uma vez. Mas, se não conseguir, ainda vamos a ter problemas. E, nesse caso, não será em 40 anos. É capaz de ser em 10, tal vez...

14 de janeiro de 2009

O Cardeal e os Mouros

Há coisas que não se esquecem. Ainda existem agravios pela "invassão dos mouros". Parece que Algarve poderia para alguns ser AllGarve, mas não al-Gharb al-Ândalus. Vergonha do passado?

Então temos o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa a dizer às meninas portuguesas que «Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Ala sabe onde acabam». Provávelmente as meninas portuguesas que são portuguesas e muçulmanas devem ter ficado no mínimo chocadas. Mas, como é obvio, para este senhor essas meninas, ao serem poucas, não contam (parece que a qualidade das pessoas tem a ver com o seu número, bonita noção para um patriarca religioso). Não que não seja verdade que há livros que estabelecem imperativamente a inferioridade e obediência da mulher para com o homem: veja-se o alcorão, a biblia... (será mais um esquecimento deste senhor?), mas depois a práctica de vida pode ser bem diferente, como acontece em muitos países (alguns deles, com maioria musulmana, mas este senhor parece que só vê "mouros").

De resto, a integração dos "mouros" (poderia ser a metade do sangue do país, mas este senhor deve ter esquecido este pormenor) está a ser difícil: «Estão a ser dados os primeiros passos, mas é muito difícil porque a verdade deles é única. Eles querem o diálogo, estão num país maioritariamente católico, porque como fazem os lobos é uma maneira de marcar os seus passos» Ou seja, não são mais do que lobos a tentar enganar a malta para depois devora-la como se fossemos capuchinhos vermelhos.

O homem teve um bonito dia de guerra santa contra os infieis, porque ainda se deu ao luxo de brincar com coisas mais serias: «O Hamas sem guerra estava a ser esquecido, tanto que os árabes não gostam deles, por isso precisou de um conflito para vir ao de cima e Israel é para ganhar as eleições», considera o cardeal, estranhando como é que os israelitas deram de «mão beijada» aos extremistas islâmicos aquilo de que necessitavam para sobreviver. Ou seja, o cardeal consegue extranhar que o exército israelita dé de mão beijada mais de 1000 mortos aos palestinianos, mais da metade dos quais, parece ser, civis (mas de 300 crianças, nas noticias de hoje, faziam parte deste números). Como pode ser tão generoso Israel? Deve ser para ganharem o seu proprio ceu. É engraçado que o cardeal possa considerar uma dávida esta quantidade de pessoas mortas. Ou não?

Não encontrou o que pretendia?