Blog de Aureus

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25 de fevereiro de 2009

Mário Crespo: Eutanásia e Casamento Gay



Recebi este texto escrito por um jornalista dos que considero bons profissionais, o Mário Crespo. E muitas vezes até concordo com ele. Não é este o caso, em absoluto. Mas transcrevo o texto dele, deve haver muito quem concorde, antes de lhe “responder”. É o que segue:

Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no parlamento, José Sócrates, secretário-geral do Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte de uma parada de costumes onde quer arregimentar todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu lado e propõe que se discuta ao mesmo tempo a eutanásia. Duas propostas que em comum têm a ausência de vida. A união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte. No meio das ideias dos mais altos responsáveis do Partido Socialista fica o vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo" dos Niilistas de Nitezsche. A discussão entre uma unidade matrimonial que não contempla a continuidade da vida e uma prática de morte, é um enunciar de vários nadas descritos entre um casamento amputado da sua consequência natural e o fim opcional da vida legalmente encomendado. Sócrates e Santos não querem discutir meios de cuidar da vida (que era o que se impunha nesta crise). Propõem a ausência de vida num lado e processos de acabar com ela noutro. Assustador, este Mundo politicamente correcto, mas vazio de existência, que o presidente e o secretário-geral do Partido Socialista querem pôr à consideração de Portugal. Um sombrio universo em que se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação, e se institui a legalidade da destruição da vida. O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca reprodutivo e o facilitismo da morte-na-hora, é o fim absoluto que começa por negar a possibilidade de existência e acaba recusando a continuação da existência. Que soturno pesadelo este com que Almeida Santos e José Sócrates sonham onde não se nasce e se legisla para morrer. Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento às uniões homossexuais é um conceito que se vai anulando à medida que se discute porque cai nas suas incongruências e paradoxos. O casamento é o mais milenar dos institutos, concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença (até Francisco Louçã na sua bucólica metáfora congressional falou do "casal" de coelhinhos como a entidade capaz de se reproduzir). E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária) porque é um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido. Tudo o mais pode ser devidamente contratualizado para dar todos os garantismos necessários e justos a outros tipos de uniões que não podem ser um "casamento" porque não são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito por Louçã. E claro que há ainda o gritante oportunismo político destas opções pelo "liberalismo moral" como lhe chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade. São, como ele disse, a escapatória tradicional quando se constata o "fracasso político-económico" do regime. O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam chegou a essa fase. Discutem a morte e a ausência da vida por serem incapazes de cuidar dos vivos.

Para já, é quase aberrante juntar na mesma sacola, de “ausência de vida”, o casamento homossexual (sinto pelo senhor Mário, mas continuo a preferir o português, por muito fino que seja o “gay”) e a eutanásia. Faz mais sentido juntar estas ideias, como pretende Almeida Santos, dentro de uma discussão sobre ética e moral social, sobre valores e direitos fundamentais das pessoas, trazendo a colação precisamente dois dos mais evidentemente faltos na nossa elite (não sei se na nossa sociedade, a ver vamos). 

Sobre a eutanásia parece que mais não diz do que é facilitismo. Espero que não se veja ele na situação em que muitas pessoas em determinado momento se encontram, a sofrer como verdadeiros animais e sem que lhes seja permitida uma morte digna. Aliás, não lhe desejo isso a ninguém. Mas qualquer familiar de doentes com cancros terminais poderia argumentar sobre o tal “facilitismo” do senhor Mário.

Em relação ao casamento, só posso pensar que de facto o senhor Mário tinha um dia muito pouco inspirado e mais nada sobre o que escrever, porque só o que lhe pagam por essas linhas é que pode justificar tê-las escrito. Ora vejamos:

- Uma união biologicamente estéril; Isto não sei se o senhor Mário considera mau. Existem pessoas estéreis. E celebram uniões. E casamentos. E acasalam, mesmo que sejam estéreis (aliás, só um precisa de o ser para o casal não ser reprodutivo). Acho que é um argumento muito, muito fraco.

- Se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação; Vá lá, parece a inquisição a falar, até dava para rir. O casamento é para a procriação? Em que século vive o senhor Mário? E o facto de haver outros casamentos que não sejam para a procriação, destrói este único mecanismo? Parece muito frágil, não é? E todos os heterossexuais que casam com a intenção clara e muitas vezes levada à prática de não ter filhos, estes são o quê?

- Um "casamento" nunca reprodutivo; Pois. Acho que, definitivamente, o senhor Mário anda a confundir casamento, de casar, juntar coisas que encaixem bem, com acasalamento, que é o que de facto pode ser ou não reprodutivo. E que os homossexuais também não devem, parece-me, rejeitar. Só mesmo a parte reprodutiva. Mas, se alguma vez ler isto, diga-me, senhor Mário: Você quando acasala, é sempre no intuito reprodutivo? A sério? Ou com esse intuito é uma percentagem de vezes bastante parecida aos homossexuais? (supondo que o senhor 1 de cada 100 vezes tenha esse intuito, e os homossexuais 0 de cada 100, a diferença parece ser de 1%, não mais...)

- O casamento é o mais milenar dos institutos; Se por casamento se entende a junção de dois indivíduos que partilham a sua vida, interesses, gostos, penas e alegrias, de facto é muito antigo, não se fica só pelo ser humano, e nunca foi exclusivo de dois indivíduos de sexo diferente. Mas sim maioritário, isso concordo, e acho normal. Aliás, acho que o normal é a maior parte dos indivíduos serem heterossexuais, e uma parte menor ser homossexual, como acontece nos hominídeos em geral, e, pelo que se vai descobrindo, pelo menos nos mamíferos em geral. Não acho decente a discriminação de ninguém por esse motivo.

- Concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença; Alguém que me explique quem é que lhe disse a este senhor o motivo pelo que foi concebido (deve ser alguém com boa memória e bastante idade...). Aliás, a maneira mais antiga, e ainda vigente, de manter algumas espécies tendo os dois géneros em presença, e a tribo, nos humanos, como é a alcateia nos lobos. Há outras espécies nas que, de facto, o casal é a maneira primordial de relação, mas não o Homo sapiens, isso é uma falácia fácil e óbvia.

- É um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido; Mais uma pequena mistura de conceitos à maluca. Parece-me obvio que as sociedades são elas próprias, per se, o mecanismo continuador das sociedades, e o casamento só é uma das suas peculiaridades. Existem (acredite) filhos fora dos casamentos, tanto como existem casamentos sem filhos. E, ainda, nas grandes sociedades sempre houve grupos que não se casavam tipicamente, por diferentes motivos, e nem por isso deixavam de contribuir para o crescimento da sociedade. Falo dos soldados, necessários para defender ou conquistar, e que também iam deixando filhos por aí, ou os religiosos que acreditavam (alguns ainda acreditam) que exerciam melhor a sua profissão solteiros, e não são poucos os casos que também deixam filhos algures, ou as prostitutas, sempre tão vilipendiadas e tão necessitadas (não existiriam em nenhuma situação se não tivessem clientes, muitos deles insatisfeitos com os seus casamentos tão reprodutivos), e também elas vão deixando os seus filhos por aí... E muitos casais, heterossexuais ou homossexuais, que sempre houve, não têm filhos. E no total, a sociedade continua...

Espero pelo bem do senhor Mário que não volte a ser chic a homossexualidade, tal como foi na Grécia clássica, quando o grande Sócrates dizia que a única maneira de se relacionarem profundamente e se compreenderem convenientemente o professor e os alunos era mantendo também relações sexuais, as mais puras, com eles (Isto tudo é descrito por Platão, o seu discípulo mais aventajado). E, já agora, olhe à sua volta, veja o mundo evoluído, veja as tendencias, leia os direiros do homem... E arranje melhores assuntos sobre os que escrever, ou, quando menos, poupe-nos o insulto, e arranje melhores argumentos, que você sabe.

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