Blog de Aureus

Gosta de algum post?  Envie-o a um amigo por e-mail. Isso ajudará a manter o blog.
Gosta do blog? Subscreva-o, e não perderá os novos posts:  Add to Google
Sugestões, comentários, criticas, elogios, qualquer coisa que deseje... Mande-me um e-mail, eu respondo! 

26 de março de 2009

O descanso de ser roubado e, pelo menos, saber


Recebi o mail que aparece a continuação. Não merece mais comentarios do que aconselhamento de que vão vocês próprios ao site e pesquisem o que lhes apeteça. O estado não deixa de surpreender: Continuam a roubar-nos, na boa, mas agora já nem sequer o escondem, podem-se rir de nos na cara, não acontece nada... Isto tudo é público, e tudo continua igual. Boa sorte. Passo ao mail:

Portugal, País de grandes tradições e brandos costumes... pelo menos é o que muitos pensam ser verdade... até abrirem os olhos.

Para quem não é de cá, ou não sabe o que são os "ajustes directos", eu explico. Como gastar o dinheiro público é uma coisa que deve ser feita com muita responsabilidade, a maior parte dos fornecedores das entidades públicas é seleccionada por concurso público, onde vários fornecedores apresentam a sua melhor proposta, sendo depois escolhida a "melhor" em
função de vários critérios (preço mais barato, serviços apresentados, etc.)

No entanto, como se imagina, isto é impraticável de ser feito para tudo o que uma câmara municipal, faculdade, universidade, etc. tenha que comprar.
E portanto, há coisas que são compradas directamente, a quem eles muito bem entenderem... e aparentemente, ao preço que muito bem lhes apetecer!

E finalmente, graças ao portal da transparência, podemos ver finalmente onde e como esse dinheiro é gasto.

Agora, expliquem-me, porque eu devo estar a ver mal, como é que se justifica:

1) gastar mais de 10.000,00 euros num GPS para um instituto público como o ISEP - quando nos dizem que não há dinheiro para baixar as propinas aos alunos.

2) Aquisição de:1 armário persiana; 2 mesas de computador; 3 cadeiras c/rodízios, braços e costas altas - pela módica quantia de 97.560,00 EUROS (!!!)

3) Em Vale de Cambra, vai-se mais longe... e se pensam que o Ferrari do Cristiano Ronaldo é caro, esperem para ver quanto custa um autocarro de 16 lugares para as crianças: 2.922.000,00 €
É isso mesmo: quase 3 milhões de euros???

4) No Alentejo, as reparações de fotocopiadoras também não ficam baratas:
Reparação de 2 Fotocopiadores WorkCentre Pró 412 e Fotocopiador WorkCentre PE 16 do Centro de Saúde de Portel: 45.144,00 €

5) Ao menos em Alcobaça, a felicidade e alegria as crianças fala mais alto:
8.849,60€ para a Concentra em brinquedos para os filhos dos funcionários da câmara!
Crianças... se não receberam uma Nintendo Wii no Natal, reclamem ao Pai Natal, porque alguém vos atrofiou o esquema!

6) Mas voltemos ao Alentejo, onde - por uns meros 375.600,00 Euros se podem adquirir:  "14 módulos de 3 cadeiras em viga e 10 módulos de 2 cadeiras em viga"

Ora... 14x3 + 10x2 =  62 cadeiras... a 375.600,00 euros dá um custo de... 6.058,00 Euros por cadeira!
Mas, pensando bem, num país onde quem precisa de ir a um hospital passa mais tempo sentado à espera do que a ser atendido - talvez justifique investir estes montantes no conforto dos utentes...

7) Em Ílhavo, a informática também está cara, 3 computadores e mais uns acessórios custam 380.666,00 €
Sem dúvida, uns supercomputadores para a Câmara Municipal conseguir descobrir onde andam a estourar o orçamento.

8) Falando em informática, se se interrogam sobre o facto da Microsoft ser tão amiga do nosso País, e de como o Bill Gates é/era o homem mais rico do mundo... é fácil quando se olham para as contas: Renovação do licenciamento do software Microsoft: 14.360.063,00 €
Já diz o ditado popular: Dezena de milhão a dezena de milhão, enche a Microsoft o papo!
(Já agora, isto dava para quantas reformas de pessoas que trabalharam uma vida inteira?)

9) Mas, para acabar em pleno, cagar na capital fica caro meus amigos! A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa gastou 5.806,08 € em 9072 rolos de papel higiénico!
Ora, uma pesquisa rápida pela net revelou-me que no Jumbo facilmente encontro rolos de papel higiénico (de folha dupla, pois claro! - pois não queremos tratar indignamente os rabos dos nossos futuros doutores) por cerca de 0,16 Euros a unidade...
Mas na Faculdade de Letras, aparentemente isso não é suficiente, e o melhor que conseguiram foi um preço de 0,64 Euros a unidade!
É "apenas" quatro vezes mais do que qualquer consumidor consegue comprar - e sem sequer pensarmos no factor de "descontos" para tais quantidades industriais.

Num País minimamente decente, eu deveria poder exigir que me devolvessem o valor pago em excesso, não?
Mandava o link para a Faculdade de Letras de Lisboa, e exigia que me devolvessem os 4.000 e tal euros pagos a mais. (Se comprassem no Jumbo, teriam pago apenas 1.451 euros pelo mesmo número de rolos de papel higiénico.)

Ó MEUS AMIGOS.... como é que é possível justificarem estas situações?
Que, como se pode imaginar, não são as únicas. Se continuasse a pesquisar nunca mais parava - como por exemplo, os mais de 650 mil euros gastos em vinho tinto e branco em Loures. Leitores de Loures, não têm por aí nada onde estes 650 mil euros fossem melhor empregues???

É preciso ser doutor, ou engenheiro, ou ministro, ou criar uma comissão de inquérito, para perceber como o dinheiro dos nossos impostos anda a ser desperdiçado?
Isto até me deixa doente... é mesmo deitar o dinheiro pela retrete abaixo (literalmente, no caso da Faculdade de Letras de Lisboa!)

Querem mais? Divirtam-se no portal da transparência!

Sugestões de pesquisa: viagens, viaturas, Natal...

Outros candidatos a roubalheira do ano:
"Projecto tempus - viagem aérea Faro / Zagreb e regresso a Faro para 1 pessoa no período de 3 a 6 de Dezembro de 2008" - 33.745,00 euros.

"Aluguer de iluminação natalícia para arruamentos na cidade de estremoz" - 1.915.000,00 euros

"Aluguer de tenda para inauguração do Museu do Castelo de Sines" - 1.236.500,00 euros

"6 kit de mala piaggio Fly para as motorizadas do sector de águas" - 106.596,00 euros
(por este valor compravam 6 automóveis, todos equipados, e ainda sobrava dinheiro!)

O misterioso caso do "Router de 400 euros comprado por 35.000,00 Euros"

E mais que podem ir ver, até cansarem (ou chorarem).

20 de março de 2009

Vamos pôr as coisas preto no branco


Fora a piadinha do título, há de facto coisas que devem ser vistas com olhos de ver.

Para já, o racismo que quase que se pode dizer que é cultural, define como bom o que é branco, ou pelo menos melhor que o que é preto. Não só nas pessoas, até nas expressões habituais o branco é bom, puro, enquanto o preto é mau, ou difícil, ou desagradável.

Para contradizer estas expressões, tivemos recentemente claros exemplos de bom e mau, e de branco e preto, mas trocados. Senão vejamos:

- Barak Obama, ao surgir o escândalo dos prémios (165 milhões de dólares) que iam receber os gestores de uma grande empresa, a seguradora AIG, fortemente subsidiada pelo estado para não falir, escandalizou-se, disse que alguma coisa ia fazer, e, como não foi possível (por falta de tempo, e porque é uma empresa privada) impedir estes prémios, conseguiu finalmente que o congresso dos Estados Unidos aprovasse uma lei, segundo a qual os prémios recebidos por gestores de empresas em que o estado tenha tido que por dinheiro, vão ser gravados com uma nova taxa de imposto: 90%.

- Papa Bento XVI: Visita África, onde existe a maior quantidade de pessoas com SIDA, e não só diz que os preservativos não ajudam em nada, como que diz mesmo que agravam a luta contra a SIDA. O resultado esperável (até por gente próxima a igreja) é um genocídio, milhares de mortos dos que quase que se poderia pedir directamente explicações ao Ratzinger.

Em relação ao primeiro ponto as reacções obviamente vão fazer-se esperar. Aqui os gestores dasgrandes empresas têm ordenados chorudos, não deixam de receber bónus e regalias, independentemente de irem bem ou mal (ou à falência), e não acontece nada. E aqui é quase todo o mundo, não um país ou dois.

Em relação ao segundo, pelo menos, houve reacções um pouco por todo lado. Mas também houve quem apoiasse e apoia. Provavelmente porque não sofrem o problema na pele, e/ou têm dinheiro para o resolver as coisas de outras maneiras.

Neste mundo de doidos passa assim a branco o preto, e a preto o branco. E teremos de mudar alguns ditados e expressões. Percebe-se agora melhor uma frase que dizem que usava bastante o Obama antes das eleições: Não vote em branco! Eu faria o mesmo, como tantos americanos, se pudesse.

6 de março de 2009

Neoliberalismo: Capitalismo marxista


Estava eu hoje de manhã, como todas as manhãs, a ouvir o rádio, no caso o RCP, minuto a minuto (é o nome do programa), e comecei a ouvir, a ouvir...

Primeiro, parece-me que era o senhor Pedro Marques Lopes, comentador político, decide passar da política à economia, e dá-nos uma lição de liberalismo económico às custas dos lucros fabulosos (e mais nos tempos que correm) da GALP no fim do ano passado: Logicamente, se a empresa tem lucros, é bom. Ninguém tem porquê escandalizar-se, as empresas estão para isso, ainda bem que alguma dá lucro, só faltava que o estado lhe tirasse uma parte dos lucros, ou essas bocas do bloco de esquerda (não sei bem o motivo pelo que ele introduziu isto na conversa) de que uma empresa que de lucro não pôde despedir ninguém, só faltava... de aqui a pouco, até vão querer nacionalizar tudo, como se não se tivesse visto já no que isso acaba, nos antigos países de Leste, todos a passar fome.

Depois, aparece (salvo seja) o senhor Camilo Lourenço, comentador de economia (de quem habitualmente gosto bastante, diga-se de passagem), e, ora vejam lá, decide enveredar por um tema mais ou menos político, por um dia. E começa a disparar com que o estado, em vez de meter-se nesses gastos em grandes obras, estradas, comboios, hospitais e escolas, devia era capitalizar os bancos e as empresas, para que fosse gerado emprego, ou até nacionaliza-los durante dois ou três anos, e depois privatiza-los. Porque devem estar em mãos privadas, isso sim.

Bom, depois disso, tive que tirar os fones do ouvido e fiquei a pensar. A pensar se tinha ouvido bem.

Primeiro: O senhor Pedro Marques Lopes esquece que neste país não há concorrência nas petroleiras, há oligopólio e cartelismo. 
Ainda, esquece também que os lucros da GALP devem-se em boa medida a diferença de velocidade na aplicação dos aumentos nas gasolinas por causa do aumento do petróleo e a aplicação das diminuições nos preços por causa da diminuição do petróleo. 
Mas, resumindo, e assumindo que tivesse sido de maneira lícita (legal sim, como sempre. Lícita é outra coisa), se uma empresa dá lucro, ainda bem, está para isso.

Segundo: O senhor Camilo Lourenço distraiu-se, suponho, ao por no mesmo saco hospitais e TGV’s, não pode ser de outra maneira. Mas tendo dinheiro o estado, poderia fazer sentido que capitalizasse os bancos. O estado está para isso mesmo, para ajudar quando faz falta.

Terceiro, e conclusões próprias: Pelo que se vê, e pelo que se vai vendo, não só neste país, deve ser em quase todos, o liberalismo económico está cada vez mais a mudar para um neoliberalismo que se traduz, aproximadamente, num capitalismo dos lucros e marxismo dos prejuízos. 

Mas, como digo, não é só aqui. Em todo o mundo capitalista temos o capital pedindo (exigindo) aos estados a sua intervenção, mas com requintes: O estado deve pôr dinheiro o nacionalizar qualquer banco com prejuízos, mas o estado deve privatiza-lo enquanto estiver saneado. As empresas devem ser ajudadas pelo estado quando têm dificuldades, mas o estado deve ficar afastado totalmente da livre gestão das empresas e dos mercados quando há lucros.

Ou seja, digo eu, o estado deve ser parvo. 

E como eu sou o estado (na parte que me toca), desculpem lá mas não concordo. Acho que há muita gentinha bem habituada a viver a fartazana, que não pode perceber que o estado queira dar dinheiro aos pobres, como se eles (esses miseráveis) fizessem algum, e não lhes queira dar dinheiro a eles, que são os grandes filhos da p...atria. E ainda por cima vão tendo razão, o estado vai-lhes dando...

Repetir esta conversa, uma vez e outra, muitas vezes, pode dar como resultado que por força da repetição a teoria seja aceite. Pensem no que ouvem antes de concordar ou discordar, anda muita ratazana à solta por aí...

Não encontrou o que pretendia?