Blog de Aureus

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25 de fevereiro de 2009

Mário Crespo: Eutanásia e Casamento Gay



Recebi este texto escrito por um jornalista dos que considero bons profissionais, o Mário Crespo. E muitas vezes até concordo com ele. Não é este o caso, em absoluto. Mas transcrevo o texto dele, deve haver muito quem concorde, antes de lhe “responder”. É o que segue:

Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no parlamento, José Sócrates, secretário-geral do Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte de uma parada de costumes onde quer arregimentar todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu lado e propõe que se discuta ao mesmo tempo a eutanásia. Duas propostas que em comum têm a ausência de vida. A união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte. No meio das ideias dos mais altos responsáveis do Partido Socialista fica o vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo" dos Niilistas de Nitezsche. A discussão entre uma unidade matrimonial que não contempla a continuidade da vida e uma prática de morte, é um enunciar de vários nadas descritos entre um casamento amputado da sua consequência natural e o fim opcional da vida legalmente encomendado. Sócrates e Santos não querem discutir meios de cuidar da vida (que era o que se impunha nesta crise). Propõem a ausência de vida num lado e processos de acabar com ela noutro. Assustador, este Mundo politicamente correcto, mas vazio de existência, que o presidente e o secretário-geral do Partido Socialista querem pôr à consideração de Portugal. Um sombrio universo em que se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação, e se institui a legalidade da destruição da vida. O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca reprodutivo e o facilitismo da morte-na-hora, é o fim absoluto que começa por negar a possibilidade de existência e acaba recusando a continuação da existência. Que soturno pesadelo este com que Almeida Santos e José Sócrates sonham onde não se nasce e se legisla para morrer. Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento às uniões homossexuais é um conceito que se vai anulando à medida que se discute porque cai nas suas incongruências e paradoxos. O casamento é o mais milenar dos institutos, concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença (até Francisco Louçã na sua bucólica metáfora congressional falou do "casal" de coelhinhos como a entidade capaz de se reproduzir). E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária) porque é um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido. Tudo o mais pode ser devidamente contratualizado para dar todos os garantismos necessários e justos a outros tipos de uniões que não podem ser um "casamento" porque não são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito por Louçã. E claro que há ainda o gritante oportunismo político destas opções pelo "liberalismo moral" como lhe chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade. São, como ele disse, a escapatória tradicional quando se constata o "fracasso político-económico" do regime. O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam chegou a essa fase. Discutem a morte e a ausência da vida por serem incapazes de cuidar dos vivos.

Para já, é quase aberrante juntar na mesma sacola, de “ausência de vida”, o casamento homossexual (sinto pelo senhor Mário, mas continuo a preferir o português, por muito fino que seja o “gay”) e a eutanásia. Faz mais sentido juntar estas ideias, como pretende Almeida Santos, dentro de uma discussão sobre ética e moral social, sobre valores e direitos fundamentais das pessoas, trazendo a colação precisamente dois dos mais evidentemente faltos na nossa elite (não sei se na nossa sociedade, a ver vamos). 

Sobre a eutanásia parece que mais não diz do que é facilitismo. Espero que não se veja ele na situação em que muitas pessoas em determinado momento se encontram, a sofrer como verdadeiros animais e sem que lhes seja permitida uma morte digna. Aliás, não lhe desejo isso a ninguém. Mas qualquer familiar de doentes com cancros terminais poderia argumentar sobre o tal “facilitismo” do senhor Mário.

Em relação ao casamento, só posso pensar que de facto o senhor Mário tinha um dia muito pouco inspirado e mais nada sobre o que escrever, porque só o que lhe pagam por essas linhas é que pode justificar tê-las escrito. Ora vejamos:

- Uma união biologicamente estéril; Isto não sei se o senhor Mário considera mau. Existem pessoas estéreis. E celebram uniões. E casamentos. E acasalam, mesmo que sejam estéreis (aliás, só um precisa de o ser para o casal não ser reprodutivo). Acho que é um argumento muito, muito fraco.

- Se destrói a identidade específica do único mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação; Vá lá, parece a inquisição a falar, até dava para rir. O casamento é para a procriação? Em que século vive o senhor Mário? E o facto de haver outros casamentos que não sejam para a procriação, destrói este único mecanismo? Parece muito frágil, não é? E todos os heterossexuais que casam com a intenção clara e muitas vezes levada à prática de não ter filhos, estes são o quê?

- Um "casamento" nunca reprodutivo; Pois. Acho que, definitivamente, o senhor Mário anda a confundir casamento, de casar, juntar coisas que encaixem bem, com acasalamento, que é o que de facto pode ser ou não reprodutivo. E que os homossexuais também não devem, parece-me, rejeitar. Só mesmo a parte reprodutiva. Mas, se alguma vez ler isto, diga-me, senhor Mário: Você quando acasala, é sempre no intuito reprodutivo? A sério? Ou com esse intuito é uma percentagem de vezes bastante parecida aos homossexuais? (supondo que o senhor 1 de cada 100 vezes tenha esse intuito, e os homossexuais 0 de cada 100, a diferença parece ser de 1%, não mais...)

- O casamento é o mais milenar dos institutos; Se por casamento se entende a junção de dois indivíduos que partilham a sua vida, interesses, gostos, penas e alegrias, de facto é muito antigo, não se fica só pelo ser humano, e nunca foi exclusivo de dois indivíduos de sexo diferente. Mas sim maioritário, isso concordo, e acho normal. Aliás, acho que o normal é a maior parte dos indivíduos serem heterossexuais, e uma parte menor ser homossexual, como acontece nos hominídeos em geral, e, pelo que se vai descobrindo, pelo menos nos mamíferos em geral. Não acho decente a discriminação de ninguém por esse motivo.

- Concebido e defendido em todas as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença; Alguém que me explique quem é que lhe disse a este senhor o motivo pelo que foi concebido (deve ser alguém com boa memória e bastante idade...). Aliás, a maneira mais antiga, e ainda vigente, de manter algumas espécies tendo os dois géneros em presença, e a tribo, nos humanos, como é a alcateia nos lobos. Há outras espécies nas que, de facto, o casal é a maneira primordial de relação, mas não o Homo sapiens, isso é uma falácia fácil e óbvia.

- É um facto insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie. Sem isso não faz sentido; Mais uma pequena mistura de conceitos à maluca. Parece-me obvio que as sociedades são elas próprias, per se, o mecanismo continuador das sociedades, e o casamento só é uma das suas peculiaridades. Existem (acredite) filhos fora dos casamentos, tanto como existem casamentos sem filhos. E, ainda, nas grandes sociedades sempre houve grupos que não se casavam tipicamente, por diferentes motivos, e nem por isso deixavam de contribuir para o crescimento da sociedade. Falo dos soldados, necessários para defender ou conquistar, e que também iam deixando filhos por aí, ou os religiosos que acreditavam (alguns ainda acreditam) que exerciam melhor a sua profissão solteiros, e não são poucos os casos que também deixam filhos algures, ou as prostitutas, sempre tão vilipendiadas e tão necessitadas (não existiriam em nenhuma situação se não tivessem clientes, muitos deles insatisfeitos com os seus casamentos tão reprodutivos), e também elas vão deixando os seus filhos por aí... E muitos casais, heterossexuais ou homossexuais, que sempre houve, não têm filhos. E no total, a sociedade continua...

Espero pelo bem do senhor Mário que não volte a ser chic a homossexualidade, tal como foi na Grécia clássica, quando o grande Sócrates dizia que a única maneira de se relacionarem profundamente e se compreenderem convenientemente o professor e os alunos era mantendo também relações sexuais, as mais puras, com eles (Isto tudo é descrito por Platão, o seu discípulo mais aventajado). E, já agora, olhe à sua volta, veja o mundo evoluído, veja as tendencias, leia os direiros do homem... E arranje melhores assuntos sobre os que escrever, ou, quando menos, poupe-nos o insulto, e arranje melhores argumentos, que você sabe.

18 de fevereiro de 2009

O cardeal e os homossexuais


O cardeal falou. E o mundo pára a ouvir. 

Há pouco eram os mouros a roubar-nos as castas e puras moças. Agora, o cardeal é outro, mas cardeal na mesma, e são os homossexuais a querer casar e roubar-nos os nossos órfãos de estimação.

Para já, concordou este cardeal com o anterior, em relação aos mouros. 

Não sei se também acha que ainda nos falta uma décima cruzada, ou se acha que assim vai o mundo por causa de se ter acabado com a Santa Inquisição (e cuidado se vêm este link porque deve ter sido feito por um padre, até a wikipedia avisa da sua parcialidade...).

Mas, vamos lá, com citas do Público
A homossexualidade não é normal, temos que dizê-lo (...) Não é normal no sentido de que a Bíblia diz que quando Deus criou o ser humano, criou o homem e a mulher. É o texto literal da Bíblia, portanto esse é o princípio sempre professado pela igreja

Por tanto, e uma vez que os homossexuais não são nem homens nem mulheres, segundo este individuo, então não são normais. 

Será que este senhor entende que é menos normal, biologicamente, ou como humano, ou pessoa, fazer sexo com alguém do mesmo sexo, do que não faze-lo com ninguém, que parece ser a aberração maior da Natureza, praticada pelo Cardeal e seus acólitos? 

Ou será que esta aberração não conta, porque afinal não é assim tão praticada

Verifiquem este link, e a wikipedia, se tiverem dúvidas em relação ao naturais ou antinaturais das relações homossexuais. Quem ouviu falar de animais que não tenham sexo de nenhum género? 
Quem é o não normal?

Depois, o senhor argumenta com mais convicção ainda, toucando-nos em pontos mais sensíveis, as crianças: 
[Os homossexuais] não podem providenciar a formação das crianças, porque uma criança para ser formada normalmente precisa de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães
Por tanto, os homossexuais não podem formar crianças. 

Nem as viúvas (o que deve ter dado gerações completas de tarados pela Europa toda no século passado, por causa das guerras). Nem os viúvos. E vamos proibir as mães solteiras. 

E, essas maravilhosas crianças que não devem ser adoptadas por homossexuais, entretanto ficam, alguém que me explique, ao cuidado de qual pai e qual mãe? Ou é numa instituição onde varias adultas (típicamente senhoras, mas admito que nisto haja de tudo) cuidam de um monte de miúdos? 

Ou, ainda, será este senhor dos que acha que, se um casal homossexual tem algum filho adoptado, lógicamente vai deixa-lo a ver a televisão na sala enquanto o casal, também na sala, se dedica a fazer "aquilo"?  Será que pensa que os heterossexuais fazemos isso à frente dos nossos filhos?

Será que uma criança fica melhor formada crescendo com um casal "normal" em que a mãe leva porrada do pai bêbado dia sim, dia não, ou com um casal "anormal" de homossexuais que se tratam como pessoas um ao outro?

De todas as maneiras, num assunto de direitos humanos, se podem ou não casar, ou adoptar, ou o que for, determinadas pessoas, tendo como condicionantes ou não as suas inclinações sexuais, o quê que a igreja tem a dizer em relação a isto? Quem é a igreja para se intrometer, num estado
 não religioso?

Claro que, como diria o Cardeal, então vamos tratar os homossexuais como pessoais normais? E aos mouros, também? Mas aonde vamos chegar nesta sociedade maluca? Ainda vão querer até que uma mulher celebre uma missa, não é? Tarados...

Em fim, Cardeal, deixe-me recomendar-lhe um livro no que poderá aprender muitas coisas. Se não encontra nada nele para aprender, isso vai querer dizer que pelo menos poderá aprender a ficar calado. O livro é Sexo, Padres e Códigos Secretos - 2000 anos de abuso sexual na Igreja Católica, e parece que é um grande éxito, editado em Portugal já em 2007, e do que já se fez um filme, Deliver Us From Evil, como pode ver.

13 de fevereiro de 2009

Moralidade Política


Recebi recentemente alguns exemplos aos que se aplica o problema. Nada ilegal, suponho. A questão nem sempre, ou nunca, nestes casos, será a legalidade, mas a moralidade não existe? Vejam isto:

Fernando Nogueira: Foi Ministro da Presidência, Justiça e Defesa, agora é Presidente do BCP Angola.

José de Oliveira e Costa: Foi Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, agora é Presidente do Banco Português de Negócios (BPN) (ou preso, a ver vamos).

Rui Machete: Foi Ministro dos Assuntos Sociais, agora é Presidente do Conselho Superior do BPN e Presidente do Conselho Executivo da FLAD.

Paulo Teixeira Pinto: Foi Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, agora (já não é) Ex-Presidente do BCP. Saiu depois de 3 anos de trabalho, com 10 milhões de indemnização e 35.000 euros / mês (15 meses por ano) para toda a vida (é a reforma do homem...).

António Vitorino: Foi Ministro da Presidência e da Defesa, agora é Vice-Presidente da PT Internacional, Presidente da Assembleia-geral do Santander Totta, e ainda comentador da RTP.

Celeste Cardona: Foi Ministra da Justiça, agora é Vogal do CA da CGD.

José Silveira Godinho: Foi Secretário de Estado das Finanças, agora é Administrador do BES.

João de Deus Pinheiro: Foi Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros, agora é Vogal do CA do Banco Privado Português (quer dizer, agora, agora, já não sei...).

Elias da Costa: Foi Secretário de Estado da Construção e Habitação, agora é Vogal do CA do BES.

Ferreira do Amaral: Foi Ministro das Obras Públicas (e decidiu, ele, que todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira passariam à Lusoponte), e agora é Presidente da Lusoponte (e tem de renegociar o contrato, que ele mesmo processou, quando estava "do outro lado da bancada").

Armando Vara: Foi Ministro-adjunto do Primeiro-ministro, agora é Vice-Presidente do BCP. Segundo consta do site do BCP , este senhor é Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo, e apresenta meritoriamente um curriculum (formação e experiência académica) exemplar para alguém neste cargo: Em 2005 uma Licenciatura em Relações Internacionais (UNI), e, o ano anterior, 2004, uma Pós-Graduação em Gestão Empresarial (ISCTE). Logo conseguiu tirar uma pós-graduação antes da licenciatura, o que obviamente o habilita para desempenhar não já qualquer função difícil como até algumas impossíveis.

António Pinto de Sousa: Não foi nada de especial (digo eu). Agora é o novo responsável máximo pelo gabinete de comunicação e imagem do IDT (Instituto da Droga e Toxicodependência), com competências atribuídas para empossar quem quiser, independentemente da sua qualificação académica e profissional, para os cargos dirigentes do Instituto, contrariando os próprios estatutos do IDT. É também (e foi) irmão de José Sócrates.

Vasco Franco: Foi nº 2 da câmara de Lisboa, durante as presidências de Jorge Sampaio e João Soares. Antes do que isso foi ferido em combate em Moçambique (depois do 25 de Abril?!). Antes do que isso tirou o Curso Geral do Comércio (equivalente ao 9º ano actual). Agora, tem 50 anos, saúde perfeita, mais de 3.035 euros mensais de reforma da câmara de Lisboa, 900 euros de reforma de ferimento de guerra, e administrador da Sanest, sociedade de capitais públicos, comparticipada pelas Câmaras da Amadora, Cascais, Oeiras e Sintra e pela empresa Águas de Portugal, que gere o sistema de saneamento da Costa do Estoril, auferindo por isso 2.000 euros mês (era o dobro, mas, azar, para autorizar a acumulação de vencimento o governo reduziu-lhe os 4.000 / mês previstos para a metade). Este lugar de administrador foi-lhe oferecido pelo senhor Joaquim Raposo, presidente da Câmara da Amadora, cuja mulher é secretária de Vasco Franco na Câmara de Lisboa.

Isto tudo, não esqueçam, é legal. Pelo menos eu não acredito que haja aqui nenhuma ilegalidade. Mas, volto a perguntar, e a moralidade? Ética, estes senhores sabem o que é? Gozar com o Zé-povinho, sabem. É óbvio.

Acrescento que as informações convêm lembrar que quase sempre são direccionadas pelo informador, e que nestes dias se recolhem mais facilmente informações sobre quem está agora no governo, mas por interesse do emissor da noticia, não porque os dos outros partidos não se encontrem em idênticas situações. E apareçam muito mais, como já a conteceu, quando estão no governo, claro.

E há muitas, muitas mais destas pequenas anedotas, aparecem por todo lado.

Algumas destas situações, acredito, têm toda a razão de ser, a pessoa tem idoneidade tanto para o cargo anterior como para o actual, e um cargo não tem conflitos de interesses com o outro.

Mas há outras que não parece que seja essa a situação: A mesma pessoa tem idoneidade para exercer de Ministro da Presidência, Ministro da Justiça, Ministro de Defesa, e Presidente de um banco? Ou, uma ministra de Justiça passa a vogal do conselho de administração de um banco? Ou um ministro de Educação, e depois de Negócios Estrangeiros, será que ele é m ais vocacionado para o mesmo lugar (vogal do CA de um banco)?

Por vezes, até poderá haver quem ache que tal vez se poderia ver algum conflitozinho de interesses entre fazer contratos brutais como ministro e depois passar a gerir a empresa contratada...

E as coisas das reformazinhas, que são muitas, todas legais (até porque muitas vezes quem decide a reforma é o mesmo que se reforma, como no Banco de Portugal), em fim, não correspondem com a média da generalidade das pensões neste pais, parece-me.

Resumindo: poderá ser tudo legal, mas, quando vai haver mais (ou pelo menos alguma) moralidade nos sistema? Não têm vergonha?

 

9 de fevereiro de 2009

Os nossos jornalistas (!)


Liguei eu a televisão, na SIC notícias, no domingo passado, às 21:00. Pensei que houvesse um telejornal, nessa hora. Não há, há só um pequeno resumo de 5 minutos, porque depois emitem outro programa (Ecoeuropa, que também acho bom).

Mas, nesse 5 minutos, davam um pequeno resumo, só "cabeçalhos", das principais noticias do dia, para o pessoal se manter informado. Pensava eu.

Couberam 3 noticias, nesses 5 minutos: o jogo do Porto e do Benfica, 3 minutos, o do Sporting e o Braga, 30 segundos, e um assalto em que roubaram um carro num stand de automóveis e o facto foi filmado, o resto.

E não aconteceu mais nada nesse dia. Ainda bem. E ainda se queixam alguns políticos (quando lhes convêm) de que os jornalistas vasculham nas suas coisas. Nem sei porquê.

No dia a seguir, de manhã, oiço no rádio uma noticia (que devia ter-lhes passado ao lado no domingo à noite, por não ser importante, digo eu) em relação aos incêndios na Austrália. Já lá vão mais de 130 mortos. Mas, desculpem, não foi isso que ouvi, isso é uma informação minha. O que eu ouvi foi: Grandes incêndios na Austrália, parece que não há feridos nem mortos entre os portugueses que lá moram, que são uns 15.000, depois pequena entrevista com o cônsul de Portugal na Austrália, até lhe perguntaram se ele estava a ajudar aos portugueses... (o homem até respondeu que não pode ajudar se não tem a quem, se ninguém lhe pediu ajuda...), e, no fim, para acabar a noticia, disseram que já lá iam mais de 100 mortos, dos quais nenhum português (repetiram novamente).

Assim, uma catástrofe pode ser tão grande como quiser, que vai ser medida em função do nº de portugueses afectados, e mais nada. 

Compreendo que haja um destaque para os portugueses, mas que só conte isso... O resto não são pessoas? Ou só damos a parte da notícia que possa dar mais audiência? E, isso sim, como se viu no Domingo, desde que não haja futebol, é obvio. Ou que haja algum sucesso espectacular que faça com que mais alguém olhe para a televisão, independentemente do seu interesse jornalístico: o roubo de um carro duvido que seja nenhum dia a notícia do dia. 
Gostava eu que um dia fosse, mas duvido que chegue. 
Isso sim, uma vez que o roubo foi filmado, então é uma curiosidade, passa a atrair ao pessoal, que não liga nenhum ao roubo do carro, mas tem imagens de como o fizeram, espectacular!

Isto tudo em relação à SIC noticias e ao RCP, que considero o melhor canal de noticias da televisão e uma emissora de radio séria. Se começar-mos a falar dos outros canais ou emissoras... mas para mi é difícil, porque raramente os vejo/oiço, já me deixei disso há algum tempo. 

Mesmo assim oiço falar, claro, da grande noticia de que um pastor mordeu na orelha a um burro que não se afastava do seu caminho, lá na aldeia de pisa-as-botas, no tras-os-montes profundo... (A noticia é exemplificativa e inventada, façam o favor os senhores jornalistas de não a usarem!), e isto pôde ocupar 10 ou 15 minutos do telejornal do horário nobre de qualquer um dos canais. E não me parece que esteja a exagerar.

Para quando teremos um jornalismo minimamente sério, que tente dar as noticias, em vez de ir ao umbiguismo, aos sucessos espectaculares ou chocantes, aproximando cada vez mais os jornais, telejornais e afins da revista Caras ou outras semelhantes, para obter maiores audiências seja como for? 

Será que os jornalistas não têm nenhuma responsabilidade nisto? Será que é lícito tentar aumentar as audiências, por cima de qualquer tipo de ética profissional? A ética agora é só coisa do passado, de saudosistas? (Também no jornalismo, quero dizer, porque noutras áreas é obvio que sim). 

Vamos bem, vamos.

7 de fevereiro de 2009

Hoje não passo multas!


Bonita situação.
Numa rua, com duas faixas, estaciono frente à minha casa, na faixa de rodagem (desse lado, não há estacionamentos). Em meia hora sou multado. É natural, o estacionamento é ilegal. 
Três dias depois, hoje, saio à rua e vejo dois policias parados, a conversar, mesmo frente à minha porta. A faixa de rodagem frente à minha casa, na rua toda, está cheia de carros. Frente aos cafés (na rua há vários) estão até em segunda fila, mal deixando passar (por meia faixa) aos carros que circulam.
Pergunto aos policias se vão multar a essa gente toda (até porque os que estão em segunda fila têm lugar para estacionar, correcto, a menos de 20 metros, mas não deve dar tanto jeito para o pequeno almoço no café...). É qualquer coisa assim:
- Bom dia.
- Bom dia.
- São vocês os que passam as multas, não são?
(sorriso dos policias) - Somos.
- E não vão passar multas a todos estes carros mal estacionados? (e estendo o braço indicando).
- Hoje é fim de semana.
(Chocante, eu ainda não sabia que há leis para cumprir só em dias úteis)
- Pois, mas estão mal estacionados.
- Pois estão. (e mais sorrisos. De facto, estavam bem dispostos, e foram extremamente educados, isso devo reconhecer).
- Mas eu deixei aqui o carro, onde agora está este outro, na Quinta-feira, durante meia hora, e fui multado.
- Pois, é normal, está proibido estacionar.
- Mas se esta proibido, multem aos que estão agora. Senão, a gente vê que vocês estão aqui, os carros mal estacionados, e não fazem nada, e acham que é permitido estacionar, não é?
- Oiça, é fim de semana (a sorrir e com amabilidade)
- E os que estão encima dos passeios, que nem deixam passar a gente?
- ... (não respondeu)
- Então só multam de vez em quando, quando é preciso que contribuamos mais um pouco para as finanças públicas?
Olharam um para o outro, a sorrir ainda mais abertamente, pouco faltou para rir, e o que falava, disse-me:
- Eu hoje não passo multas.
- Já percebi - disse eu, e fui à minha vida.

E eu pensava (inocente?) que dos poderes do estado, executivo, legislativo e judicial, os policias só teriam o executivo, e pontualmente... 
Pois não, não é assim. Pelos vistos podem utilizar todos. Passam as multas, mas também decidem quando ou a quem, arbitrariamente. E ainda devem utilizar o poder legislativo, porque não me lembro de a Assembleia da República ter escrito algures que estacionar na faixa de rodagem é proibido excepto aos fins de semana.

Assim,  estas pessoas, funcionários do estado, num emprego que não requer grandes estudos ou nível cultural, a quem eu (e todos nós) pago o ordenado com os meus impostos, enfim, gente normalíssima, sem nenhum facto que os diferencie do comum dos mortais, podem vir a decidir, conforme a sua conveniência, dependendo da própria vontade ou de como se levantaram da cama nesse dia, multar ou não a qualquer um, de maneira totalmente arbitraria.

Ou estarei enganado e de facto têm ordem de multar uns dias, e têm ordem de não multar noutros, dependendo de escuros desígnios das suas chefias?

Bom, cá fica o facto, e espero que da próxima vez que eu estacione ilegalmente (o que não devo fazer, reconheço), venha a coincidir com um dia em que não passem multas...

2 de fevereiro de 2009

ERSE - Outra vez as empresas públicas

Recebi este texto, que passo a resumir um pouco:
Mais uma golpada - Jorge Viegas Vasconcelos despediu-se da ERSE
Era uma vez um senhor chamado Jorge Viegas Vasconcelos, que era presidente de uma coisa chamada ERSE, ou seja, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, organismo que praticamente ninguém conhece e, dos que conhecem, poucos devem saber para o que serve. 
Mas o que sabemos é que o senhor Vasconcelos pediu a demissão do seu cargo porque, segundo consta, queria que os aumentos da electricidade ainda fossem maiores. Ora, quando alguém se demite do seu emprego, fá-lo por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade empregador, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios. 
Porém, com o senhor Vasconcelos não foi assim. Na verdade, ele vai para casa com 12 mil euros por mês - ou seja, 2.400 contos - durante o máximo de dois anos, até encontrar um novo emprego. ... porque...
... «o regime aplicado aos membros do conselho de administração da ERSE foi aprovado pela própria ERSE». ... ...Dizendo ainda melhor: o senhor Vasconcelos (que era presidente da ERSE desde a sua fundação) e os seus amigos do conselho de administração, apesar de terem o estatuto de gestores públicos, criaram um esquema ainda mais vantajoso para si próprios, como seja, por exemplo, ficarem com um ordenado milionário quando resolverem demitir-se dos seus cargos. ... 
...O senhor Vasconcelos recebia 18 mil euros mensais, mais subsídio de férias, subsídio de Natal e ajudas de custo....  
Aqui, uma pergunta se impõe: Afinal, o que é - e para que serve - a ERSE? 
... após receber uma reclamação, a ERSE intervém através da mediação e da tentativa de conciliação das partes envolvidas. Antes, o consumidor tem de reclamar junto do prestador de serviço. 
(??? Portanto??? Faz o quê???)
Bom, acho que é uma boa dica, dá que pensar. Não só pelo escândalo do ordenado, ou pelo escândalo do dinheiro que leva quando se despede, como por pensar que o dinheiro que este senhor usa e gasta é meu (e seu), dos impostos de todos os portugueses. E, ainda pior, não é, nem de longe, caso único (aliás, para estas situações o maior escândalo que conheço é o do banco de Portugal).
Mas não nos podemos queixar muito: estes casos sabem-se, são conhecidos (cada vez mais e mais depressa), e um dia sabe-se que um ministro contrata a nora para consultora de não sei o quê sem que tenha acabado o curso, o seu tio passa a ser conselheiro de administração de não sei qual empresa pública, quando antes era cozinheiro e até a casa era administrada pela sua Mariazinha... E sabemos isto tudo e não fazemos nada
E enquanto não comecemos, todos nós, a fazer realmente alguma coisa, a não permitir estes factos, não chegaremos longe como país.
Temos que mostrar indignação, dizê-lo alto e claro, e usa-lo nas votações. E esquecer, se queremos avançar alguma vez, que somos pequeninos, que não vou ser eu quem diga/faça, eu sozinho não vou a lado nenhum e depois eu é que me lixo, e asneiradas semelhantes que conseguiram e conseguem converter esta terra na terra prometida dos gandulos audazes, que fazem com que qualquer um que queira espezinhar o próximo, encontre logo meia dúzia disposta a ser espezinhada desde que não seja muito forte, porque, o que é de fazer eu, pobrezinho, tão pequenino...?
Podemos acabar com o espíritu com que nos habituaram durante muitos anos. Não de um dia para outro, mas aos poucos podemos. Desde que todos nós, cada um de nós, tente faze-lo sem esperar pelos outros, faze-lo por si mesmo, pela sua familia e pelo seu país. Podemos. 
Queremos?

Não encontrou o que pretendia?